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Em Espanha, dá-se por adquirido que o Podemos (Esquerda) ultrapassará os socialistas (centro-esquerda) e lutará pela vitória nas eleições com os populares (centro-direita). No Reino Unido, as sondagens dão vantagem à opção pela saída da União Europeia, ao sabor do nacionalismo de Direita. O mesmo Reino Unido que, há uns meses, enterrou a terceira via, essa espécie de corolário político do não é carne nem é peixe, e escolheu Jeremy Corbin, socialista, para líder dos trabalhistas. Na Áustria, o mapa político é dominado pelo partido na extrema-direita do espetro, relegando os partidos do Centro para papéis menores. Nos EUA, as primárias estão no final e, embora mantendo-se nominalmente o statu quo, o que sobra já não são os partidos republicano e democrático de sempre: no centro-direita, a nomeação vai para um ultra como Trump; no centro-esquerda, a candidata do sistema acabou por se impor, mas teve de lutar até ao último dia para derrotar o socialista Bernie Sanders que, mesmo perdendo, obrigou Hillary Clinton a revelar uma faceta de Esquerda que provavelmente ela própria desconhecia. Na Alemanha, à medida que as eleições se aproximam, ganha força, nos governos regionais e nas sondagens, um partido mais à direita (Alternativa para a Alemanha) do que os democratas cristãos de Merkel, com um discurso nacionalista, protecionista e xenófobo. Uma alma gémea da Frente Nacional, em França, país que também se prepara para eleições presidenciais, sendo que a única certeza dos analistas políticos, nesta altura, é que Marine Le Pen estará na segunda volta. Na Grécia, a história é conhecida, com o Syriza (Esquerda) a sobrepor-se ao centro-direita e a varrer do mapa o centro-esquerda, conseguindo manter-se no poder mesmo depois do caos económico originado pela sua estratégia de confrontação com a Europa. E também aqui, no nosso retângulo, se rompeu com o chamado "arco da governação", substituído pela "geringonça", com o PS a protagonizar, depois de 40 anos a fundir-se com o Centro, uma guinada à Esquerda. O mundo político está a mudar. Concretamente, o mundo em que a democracia representativa está há mais tempo e mais solidamente implantada. Alguns argumentam que o que está em causa, à Direita e à Esquerda, é que ganha peso o discurso populista, radical e facilitador, face à moderação, compromisso e responsabilidade dos partidos do Centro. Como se o populismo fosse uma descoberta deste século XXI. A resposta é capaz de ser outra. A política deveria ser, em primeiro lugar, confrontação de ideias, e só depois concertação de projetos. Acontece que o compromisso passou a ser um fim em si mesmo, em vez de um meio para atingir um fim. Os cidadãos, assolados pela crise, cansaram-se e castigam os que estão tão comprometidos consigo próprios e com os seus interesses que se esqueceram de que o compromisso deveria ser com os seus povos.
*EDITOR-EXECUTIVO