A originalidade do Cristianismo é um Deus que se faz verdadeiro homem. No dia de Natal é proclamada, no Evangelho da Missa do Dia, esta frase tão conhecida: "E o verbo (a palavra) fez-Se carne e habitou entre nós" (Jo 1, 14). Nesta celebração, antes do Evangelho escuta-se o início da Epístola aos Hebreus que diz: "Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por seu Filho" (Heb 1, 1).
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O estranho é que, ao assumir a condição humana, Deus aceitou silenciar-se. Como qualquer criança, se foi verdadeiramente homem, não falou até cerca dos dois anos de idade. A Palavra aceitou ser calada. Não quer dizer que não comunicasse. Como qualquer criança, Deus "aprendeu" a comunicar pelo sorriso, pelo choro, pelo olhar......
Até aos 30 anos pouco se sabe do que Jesus tenha comunicado pela palavra. Depois dessa idade, sabe-se que se tornou uma palavra incómoda, sobretudo para os poderosos e para os hipócritas do seu tempo. De tal forma que decidiram silenciá-lo. E submergiu no silêncio do sepulcro. De novo, Deus aceitou calar-se ao sujeitar-se à morte.
Para os que acreditam, nem a morte conseguiu calar a palavra, porque Ele ressuscitou e continuou a falar pelos apóstolos, que a espalharam por todo o Mundo.
Hoje os cristãos são chamados a emprestar a sua voz à palavra e a continuar a incomodar. Não podem calar-se perante as injustiças, a corrupção, a concentração da riqueza à custa da exploração dos mais fracos. Têm de denunciar todos os atentados contra a vida e a dignidade da pessoa. Não podem ser insensíveis a qualquer sofrimento humano.
Para isso têm de reaprender o valor do silêncio, da introspeção, do reencontro consigo e com Deus. Para que as suas palavras saibam traduzir a palavra que os inspira.
Um feliz Natal!
Padre