Não faz muito frio, mas a neve chegou. Nos dois lados da costa, concentram-se as maiores comunidades portuguesas, quase milhão e meio, uma parte significativa na Califórnia e a maioria distribuída pela costa leste debruçada sobre o Atlântico.
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A estação de comboio é um bom ponto de observação da diversidade deste país e, de facto, os americanos são gente que veio de todo o Mundo. Olhando à volta, torna-se mais incompreensível a obsessão de Trump em fechar o país, seja do ponto de vista comercial ou político. Aquilo que fez a América grande e promoveu o seu crescimento foi a abertura ao Mundo e a participação ativa no sistema internacional.
Ao contrário do presidente americano, o líder chinês tem defendido a via do diálogo e da inclusão. Em 2017, Xi Jinping acolheu em Pequim um grande fórum de cooperação internacional em que estiveram presentes 25 chefes de Estado e de Governo, representantes de 130 países e 70 organizações internacionais. O ambicioso programa apresentado, a Rota da Seda do século XXI, é sobretudo uma visão política que pretende envolver Ásia, África e Europa. Seria longo discutir alcance e subentendidos do projeto em marcha, mas não podemos escapar ao debate proposto sobre redes e comunicação, fio condutor de uma história comum que a China recupera em direção ao futuro. Durante séculos, o Império do Meio julgou proteger-se criando uma barreira de proteção contra as ameaças externas. Em meados do século XV, num breve período, o imperador incentivou missões diplomáticas e comerciais que levaram os juncos chineses até Moçambique, mas a tendência seguinte foi erguer fronteiras, mesmo internas, e evitar contactos exteriores, o que impediu o conhecimento e contribuiu para o empobrecimento. Desde final dos anos 70, a China tem vindo a abrir-se ao Mundo e ganhar poder. Xi Jinping, que visitará Portugal no final do ano, está disposto a ocupar o espaço que outros abandonam e introduziu no seu discurso a defesa do Mundo multipolar e a importância da paz. É também ele que parece mais disponível para os esforços ambientais.
Houve tempos em que o Mundo se dividia entre norte e sul, oeste e este, o que correspondia a ricos e pobres, países desenvolvidos e em desenvolvimento, poderosos e não poderosos. A globalização alterou essa geografia que durou séculos, e chegámos a um tempo de mudança de atores que tornarão evidente e urgente um novo sistema internacional.
*PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
