O mundo tem um problema de CO2. Portugal tem um problema de 3CO: concorrência, competitividade e coesão. E de 3DE: desemprego, défice e dívida. Desdobrando a questão da coesão em social e territorial, é mais correcto falar em 4CO. E, pela mesma lógica, em 4DE: desemprego, dívida, défice das contas públicas e défice externo. Tudo somado, conclui-se que Portugal é um problema. Irresolúvel? No mínimo, de solução adiada, como aquelas charadas que vêm nas revistas com a resposta prometida para a semana seguinte.
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Na prática, de todos aqueles problemas só o desemprego nos tira o sono. O resto é etéreo. Conversa de economistas, analistas e políticos. "Portugal sempre teve problemas e sempre achou soluções. Não há-de ser desta que não as encontraremos". E agimos em conformidade. "No pasa nada!". Resolvemos os problemas do passado e celebramos como se fossem os do futuro. Ocasionando, sempre, mais despesa. Investimos no futuro, dizem. Como aqueles eternos candidatos ao título que, no início da época, anunciam solenes: "este ano é que vai ser"!
Por isso, incomoda quem venha pôr as coisas preto no branco. Quantificar. Como o estudo do BPI. Com o desemprego nos dois dígitos e sem perspectivas de melhoria, com o sector privado, como sempre, na expectativa, com um défice excessivo, uma dívida pública galopante e a Comissão Europeia à perna, o actual executivo não tem vida fácil. O que não justifica a resposta de Sócrates.
O governo precisa de controlar as contas, contendo ou cortando na despesa corrente para manter a porta aberta aos programas de estímulo à economia. Vai ter de escolher. Dar sinais concretos, de determinação e empenho. Quem põe as coisas a claro, ajuda. Evita que se perpetuem mistificações. Acentua urgências.
O governo anterior percebeu que não conseguiria mudar o país pela cedência aos interesses corporativos. Faltou-lhe a habilidade para lidar com eles. Minoritário, o actual executivo parece trilhar o caminho contrário, procurando conciliar o inconciliável. Cedeu na carreira dos professores, injectou dinheiro no ensino superior. Julgando que ganhava a paz social. De facto, fomentando novas reivindicações. Por contágio. Os enfermeiros anunciam uma greve. Outras se seguirão. Em nome de direitos adquiridos. Adquiridos? A crédito. Das gerações futuras. "No pasa nada!"..