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A sequência dos factos que se segue não engana: a guerra surda motivada pelo anúncio da candidatura de Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto está no terreno e em força. Bem pode o líder da Distrital do Porto do PSD pedir contenção às hostes ligadas a Rui Rio e Menezes... O ódio - cordial, mas ódio - sobrepõe-se à racionalidade. Não haverá meio-termo neste confronto. É, como diz o povo, uma luta de ou vai ou racha.
Como Menezes antecipou o anúncio, cabe a Rio ir atrás do prejuízo, para citar outro plebeísmo. E ele vai. E com força.
Primeiro facto. Um homem que, como o presidente da Câmara do Porto, passa a vida a aspergir moral sobre os incautos não vê problema em usar a revista da Câmara, paga pelo erário público, para mandar publicar um texto sobre a limitação de mandatos cuja conclusão, por acaso, coincide com aquilo que ele pensa: presidentes com três ou mais mandatos feitos não podem candidatar-se de novo. Ou seja: Menezes não pode ir a votos no Porto.
Explicação da Câmara: o texto pretende apenas elucidar o leitor. Mas explicar o quê, se não há qualquer decisão definitiva sobre a matéria? A pretensa ajuda ao eleitor não passa de um exercício de pura demagogia. É feio.
Segundo facto. Ontem, numa entrevista ao diário "Público", Miguel Veiga, fundador do PSD e mandatário das candidaturas de Rio, diz que, para ele, "a candidatura de Menezes não serve". Porquê? Por causa da "personalidade política" do presidente da Câmara de Gaia. Convenhamos: para um intelectual como Veiga, o argumento é fraquinho. Parece encomendado, não parece?
Terceiro facto. Ontem ainda, o presidente da Distrital do Porto do CDS-PP pôs mais gasolina no fogo. "Não sei o que [o PSD e Menezes] pensam para o Porto", disse Álvaro Castello-Branco numa entrevista ao JN. Ora, se há coisa que Menezes tem feito com abundância é disparar medidas e ideias - umas melhores, outras piores - para o Porto. Donde, ou Castello-Branco anda distraído, ou está a fazer um número de contorcionismo político.
Dos três atos resulta uma evidência: Rui Rio já tem as tropas na rua a gastar munições. Para ser consequente, precisa agora de um comandante. Isto é: de um nome que, mais cedo ou mais tarde, corporize a contestação a Menezes. Caso contrário, estará a dar - e a mandar dar - tiros no escuro, coisa pouco recomendável para quem se tem como uma das últimas reservas morais da nação, a quem o futuro fará justiça.
Portanto, sendo certo que eles já andam aí, resta saber como e quando reagirá Menezes. Para ele, perder esta luta é pôr fim à sua vida na política.
Rio corre menos riscos, porque andará sempre na sombra. E se a coisa não funcionar poderá sempre dizer que não teve nada a ver com ela. Não deixará de ser um espinho que se lhe encravará na garganta, uma dor que se lhe amarrará à alma. Menezes como seu sucessor? Antes o comunismo!