Há poucas situações tão embaraçosas como aquela em que, na cadeira do dentista, nos sujeitamos a dialogar com ele fazendo uso exclusivo da cabeça e de vagos murmúrios. Mas você não acha? Hum, hum...
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E o dentista discorre sobre a vida quotidiana, a dele e a nossa, sobre a retoma económica, sobre as distrofias das redes sociais. Sempre a falar, sempre a ouvir-se. Você não acha? Hum, hum... Na maior parte dos casos, a circunstância de estarmos de maxilares afastados e com um aspirador de saliva a zumbir no ouvido esquerdo alivia o desconforto de falarem connosco sem nós respondermos.
No barbeiro interage-se, no podologista tem-se umas conversas agradáveis, no homeopata rosnamos de forma eloquente com o bandido que nos trilha as articulações, mas no dentista não. É um monólogo. Já me aconteceu ter necessidade de o interromper, mas depois ele muda o aspirador de saliva de lado, balança a broca rente aos meus olhos e vai por ali fora. Você não acha? É impossível não concordar com ele. Hum, hum.
Jornalista