Noélia, a menina da ria. Formosa e segura, no seu jeito próprio de misturar quase toda a verdura que a terra lhe dá, com a fartura possível que lhe chega do mar. E da ria.
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Noélia, menina da ria. No meio de tanto calor descobrimos um valor que arrepia. De calção ou corpo aberto, é neste espaço do restaurante Noélia e Jerónimo que no verão quente de Cabanas, Tavira, adorei ver pela primeira vez uma espécie de tensão flutuante entre os ingredientes e os produtos absolutamente regionais que compõem a lista. E perceber porque é considerada a chef dos chefs.
Para quem um destino como o Havai é o paraíso sonhado, pode ficar a saber que tem nesta terra de Noélia todo os lugares com que sonhou, incluindo o Havai.
Depois desta enorme experiência que é ir jantar no meio de agosto a este restaurante, fica o desejo de voltar a ter este desejo sempre que nos quisermos lembrar das ondas dos mares que povoam a nossa imaginação.
A experiência começa logo pela absoluta dificuldade que temos em conseguir um lugar, seja na esplanada ou na zona mais recatada, no interior. Em boa verdade, estou hoje a celebrar essa espécie de vitória que consegui esta semana, à sexta tentativa e mesmo assim usando os lóbis fortíssimos dos meus amigos da Má Língua, Miguel Esteves Cardoso (sempre assessorado pela sua inseparável Maria João) e a Rita Blanco.
Foram muitos os "vencedores" da noite, mas a sopa de peixe, o caril de robalo selvagem com arroz e manga e as farófias subiram ao pódio e não estou a ver como hão de um dia de lá sair.
A excelência dos sabores, a frescura genuína dos produtos e a atração exclusiva de todos os sentidos a que nos obrigam, levaram-me a tirar uma conclusão inesperada à hora a que chegava o café. Tinha sido a primeira vez em que tinha estado num restaurante a abarrotar de gente a jantar e a esperar e não tinha sentido o mínimo desconforto com a situação. Julguei mesmo que por algum milagre tínhamos jantado sozinhos, sem nada à nossa volta para além dos odores e sabores que emergiam de cada prato.
De volta a casa, deu-se uma curiosa coincidência que ainda aumentou a felicidade que eu já sentia. Na rádio, apareceu a Maria Rita a cantar uma das minhas músicas brasileiras favoritas, "Menino do Rio". Tal como Caetano Veloso escreve no último verso desta canção, "toma esta canção como um beijo", eu também gostaria que a Noélia pudesse tomar esta crónica como um beijo.
Sendo certo que os leitores que já lá foram ou lá forem entretanto, vão ficar também com vontade de me mandar um beijo de agradecimento por esta sugestão de verão.
*Empresário