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Se tivesse uma filha, chamava-lhe Esperança, porque seria, em caso de catástrofe, a última a morrer. Mais do que andar atrás dos filhos a toda a hora, de lhes dar boleia a meio da noite, de alimentá-los como a um náufrago que encontra a praia, é importante pesar todos os fatores quando escolhemos um nome. Essa deve ser a primeira preocupação de um pai, atendendo a que sem isso não é possível fazer a criança sócia do clube de coração. Os meus pais, numa horinha iluminada, tiveram a felicidade de me registarem como "Vítor", conferindo-me o privilégio de poder entrar um pouco mais tarde na sala de aula, nos tempos em que a chamada era feita por ordem alfabética. Nem sempre corria bem. Professores havia que controlavam a entrada após o segundo toque. E então lá ficava eu, nariz torcido, muito baixinho, a chamar-lhes... nomes.
*Jornalista