Foi esta semana criada a Plataforma de Cooperação Noroeste Global, cuja missão é a afirmação do valor estratégico para a economia nacional da macrorregião que se estende entre Aveiro e Braga.
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A ideia é partir do potencial de inovação instalado e mobilizável, dar-lhe corpo e escala e projetá-lo internacionalmente. Num período em que a palavra de ordem parece ser a centralização de tudo o que é público, o que obviamente desaproveita o potencial de crescimento da economia, é de saudar uma iniciativa que perspetiva o crescimento a partir do território. E que associa justamente dois dos mais poderosos ativos, que por sinal se desenvolveram e qualificaram no Portugal democrático dos últimos 40 anos: as universidades e o poder local. A estes dois juntou-se ainda uma associação empresarial focada na inovação, constituindo-se assim o triângulo virtuoso que por vezes se designa por hélice tripla (conhecimento, governo local e empresas).
Em concreto, a plataforma integra as universidades (Porto, Minho, Aveiro e Católica do Porto), as cidades onde se situam (Porto, Braga, Guimarães e Aveiro) e a COTEC. É de salientar o papel de catalisador da Fundação Calouste Gulbenkian, que desde o início se constituiu como facilitador nos trabalhos preparativos, nomeadamente ao longo do desenvolvimento dos estudos preparatórios e das linhas estratégicas que antecederam a celebração do protocolo de criação da plataforma.
E por que razão é importante a criação desta plataforma? O crescimento económico sustentado tornou-se um imperativo para um país que acumulou uma enorme dívida pública. Neste contexto, importa mapear os motores regionais do crescimento, nomeadamente aqueles que produzem e exportam bens transacionáveis e que, por isso, carecem de estratégias que os reposicionem nos mercados internacionais. É costume, a este propósito, afirmar que o eixo litoral que vai de Setúbal a Viana concentra a esmagadora parte do produto nacional. O problema desta aproximação é que esta faixa é muito heterogénea, não sendo eficaz a adoção de uma estratégia comum.
Numa leitura mais fina dos ditos motores do crescimento, direi que existem em Portugal três regiões críticas. A Região Metropolitana de Lisboa, que se estende a Setúbal, é indubitavelmente importante pelo valor acrescentado que gera, embora com relevância inflacionada pela localização das sedes das empresas e pela inusitada concentração da máquina do Estado. O Noroeste, que se estende de Aveiro a Viana do Castelo, incluindo Porto, Braga e Guimarães. E, por fim, o Algarve, com o seu peso num dos setores de marca de Portugal: o turismo.
Ofuturo da macrorregião do Noroeste é importante para a sua própria população, empresas e instituições. Mas também para o Norte interior e para o conjunto do país. Tudo isto porque o Noroeste integra hoje a maior concentração de indústria exportadora de Portugal em torno de vários clusters consolidados e de alguns protoclusters. Registou, nas três últimas décadas, o maior investimento conjunto na ampliação do Ensino Superior público, onde pontuam três das mais bem colocadas universidades portuguesas nos rankings internacionais: Porto, Minho e Aveiro. Os centros de I&D e as entidades setoriais de apoio à transferência de tecnologia, à inovação e ao empreendedorismo são do melhor que existe no país e estão fortemente internacionalizados. Por fim, o sistema urbano policêntrico da macrorregião é constituído por um conjunto de cidades que, se disponíveis para se organizarem em rede, podem adquirir escala internacional, sobretudo importante no contexto da atração de investimento direto estrangeiro e, noutro patamar, de talento empreendedor.
A iniciativa Noroeste Global nasceu a partir dos atores que, no território, geram valor numa base continuada. Optaram por se organizarem a partir da base, sem qualquer guião ou mandato do Governo. Para que esta aparente boa ideia possa resultar, espera-se que os instrumentos de financiamento público, nomeadamente o Portugal 2020, percebam os méritos da abordagem territorializada e sejam tributários da sua viabilização. E também que os atores do Noroeste não esqueçam a necessidade de um efeito difusor que beneficie também as regiões adjacentes do interior.