Se pudéssemos espreitar por um furo feito em linha reta pelo nosso planeta adentro e espreitar o que fazem os nossos irmãos nos antípodas ficaríamos primeiro espantados e depois cheios de boas ideias.
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Esta nossa obsessão histórica pelos espanhóis e interesseira pela Europa limita muito o nosso ângulo de visão. E é pena.
Por estes dias, a Nova Zelândia põe a funcionar o seu novo Governo que reconduz Jacinda Ardern com uma maioria absoluta e inédita do Partido Trabalhista.
Tratou-se ao que parece de um reconhecimento esmagador da excecional forma como o país lutou contra a pandemia.
Tendo fechado o país aos 50 casos confirmados e mantendo até hoje regras severas de circulação, a Nova Zelândia tem 77 casos ativos, um número total de infetados de 1603 e 25 mortes.
A forma como o novo gabinete é estruturado, percebendo que o mandato será marcado pela pandemia, dá-nos boas pistas para a razão deste sucesso.
O vice-primeiro-ministro acumula as pastas das Finanças e infraestruturas, concentrando o financiamento da crise e o principal recurso para a recuperação .
Há um ministro especialmente focado na resposta à covid-19 (Minister for covid-19 response) que gere as estruturas para isolamento dos casos positivos, as campanhas de testagem e o seguimento dos contactos de cidadãos infetados, ao mesmo tempo que o Ministério da Saúde se foca na adaptação e reforma geral do sistema, tendo em conta a pandemia em curso e as lições que já nos deixou.
Em Portugal são difusos os mandatos ministeriais e quase tudo tem a ver com todos; é perturbadora a falta de coordenação entre os vários níveis da administração e completamente ineficaz, para nós e para os próprios, o afunilamento da comunicação no sr. primeiro ministro e no sr. presidente da República. A última conferência de Imprensa do dr. António Costa foi disto um exemplo acabado.
Paremos para pensar. Somos todos poucos. Mesmo aqui Jacinda Ardern marcou pontos. Mesmo não precisando, foi buscar antigos aliados da governação sem cálculo ou preconceito.
*Analista financeira