A tomada de posse de Nicolás Maduro, cada vez mais isolado internacionalmente, devolve-nos à realidade dos que tentam escapar de um país com recursos imensos, que já foi terra de oportunidades e onde vive uma larga comunidade portuguesa.
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Cerca de 6000 regressaram e outros virão. Também o Brexit deixa muitas inquietações, tanto mais que faltam escassos 80 dias para a saída e não se sabe como terminará a saga do acordo com a União Europeia.
Desde sempre, os portugueses andaram pelo Mundo e por lá se fixaram (é difícil encontrar uma geografia onde não haja portugueses ou seus descendentes), quase sempre em busca de melhor qualidade de vida. Muito sofreram nessa aventura, como quase sempre acontece quando se deixa um lugar familiar para tentar a sorte, o que pode acabar em tragédia como temos visto.
Foi por isso um momento histórico a aprovação nas Nações Unidas, em final de dezembro, do Pacto Global para a Migração Segura, Ordenada e Regular, com voto a favor de 152 países e rejeição por parte dos EUA, Israel, Polónia, Hungria e República Checa. O pacto resultou de um amplo e intenso processo negocial para chegar a uma visão integrada e equilibrada sem afetar a soberania dos estados e, ao mesmo tempo, responder a um problema complexo, cada vez mais constante e global. O seu título sintetiza os objetivos que incluem a regulação dos movimentos migratórios.
Mas são alguns dos países com maior tradição de emigração que agora pretendem formar pactos anti-imigração, como defende o vice-primeiro ministro italiano, Matteo Salvini, em périplo pela Europa para uma aliança entre os que partilham esta visão. Também o recém-empossado presidente brasileiro acaba de abandonar o Pacto Global para a Migração com o argumento "Não é qualquer um que entra em nossa casa". Tudo está bem quando somos nós, o problema são os outros. Nem vale a pena invocar a história dos EUA e as muitas camadas de imigrantes que formam a sua identidade. Construir muros (de arame, betão ou aço) não resolverá o movimento contínuo das migrações que tenderá a crescer e tornar-se mais violento se não existirem respostas concertadas. Não é possível cada um resolver o seu problema. Tanto mais difícil se alimentarmos a ideia do outro e da diferença como ameaças. As migrações existiram desde o princípio da Humanidade, como é exemplo a dolorosa história dos judeus. Podemos escolher políticas, mas nunca perder a memória.
Professora universitária
