O efeito barragem funcionou. Marine Le Pen e a sobrinha Marion, que há uma semana cantaram vitória, foram derrotadas na segunda volta das eleições regionais em França graças à desistência dos candidatos socialistas, em favor do partido de centro-direita Os Republicanos. A esta concentração de voto nas regiões em que as duas principais figuras da Frente Nacional concorriam, juntou-se a mobilização dos eleitores. Depois de uma primeira volta com uma abstenção gigantesca de 50,9%, ontem a afluência às urnas subiu em quase dez pontos percentuais.
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A derrota da Frente Nacional é a prova do quanto os cenários podem mudar com uma mobilização forte do eleitorado. Cada um dos votos conta, sim. E se o modelo eleitoral não contemplasse duas voltas, o mapa final dos resultados teria sido significativamente diferente. Confrontados com o avanço esmagador da extrema-direita, os franceses disseram "não".
Marine Le Pen foi travada, mas não vale a pena alimentar ilusões. A sua agenda domina os discursos políticos, em temas como a segurança e a imigração. Em cinco anos a Frente Nacional cresceu 16 pontos. Deixou de fazer sentido falar em voto de protesto. É cada vez mais um voto por convicção.
Ao contrário do pai, que se desdobrava em declarações provocatórias e gostava de ser odiado, Marine Le Pen moderou a linguagem, deu prioridade à economia e a temas sociais e apostou de forma clara na conquista dos jovens. Promove ateliers de formação para captar militantes e os resultados mostram a sua penetração nas camadas jovens: cerca de 35% dos votantes com 18 a 24 anos escolhem a Frente Nacional. Marine tem ambição de poder, os olhos postos nas presidenciais de 2017 e uma estratégia de conquista geopolítica. De nada serve diabolizar o fenómeno. Ele é já muito mais do que um fantasma incómodo.
Noutras eleições, mais longínquas geográfica e culturalmente, 13 mulheres foram eleitas para conselhos municipais na Arábia Saudita, naquelas que foram as primeiras eleições em que as sauditas foram autorizadas a participar - quer como eleitoras, quer como candidatas. É um passo pequeno, se tivermos em conta que lhes continuam vedados direitos tão simples como irem sozinhas ao médico ou usarem uma roupa que realce as suas formas. É um passo gigante, olhando para o que o poder de votar e de exercer um cargo eleito representa.
As duas eleições, à primeira vista tão distintas, tocam-se mais do que parece. Ou a democracia se aprofunda, na França, na Arábia Saudita e em qualquer parte do Mundo, ou haverá sempre espaço para os extremismos.