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O INE divulgou esta semana os números sobre o crescimento referentes ao segundo trimestre deste ano. Confirmou a sua estimativa rápida de meados de agosto: face ao trimestre anterior o PIB cresceu 0,4% e face ao trimestre homólogo de 2014 cresceu 1,5%. Após a recessão de 2011 a 2013, a mais longa de que há registo, a recuperação do crescimento da economia portuguesa é sem dúvida uma boa notícia. Sem crescimento não há criação de emprego nem melhoria das condições de vida. Todavia, os números divulgados suscitam-me vários comentários e interrogações.
De acordo com as projeções de várias entidades, Portugal não crescerá muito mais do que isto nos próximos anos. Se queremos convergir com os países mais desenvolvidos, nossos parceiros na UE, então ainda não há grandes motivos de satisfação. Este crescimento é manifestamente baixo. Acresce que, face aos riscos externos a que estamos expostos, por exemplo as repercussões mundiais da situação na China, se algo correr mal podemos ser arrastados novamente para uma recessão.
A informação divulgada pelo INE revela também que o crescimento observado foi impulsionado pela procura interna, principalmente pelo consumo. A evolução do investimento foi forte, justificada em grande parte pelo crescimento dos stocks. Porém, o investimento em instalações, máquinas e equipamentos, decisivo para a melhoria do nosso potencial de crescimento, desacelerou. O aumento dos stocks parece corroborar que a dinâmica do consumo continuará a dar o contributo mais significativo para crescimento. Em contrapartida, a procura externa líquida (diferença entre exportações e importações) teve um contributo negativo. Nos últimos trimestres, as importações têm crescido cada vez mais, e mais do que as exportações. Isto não é bom.
A crise mostrou claramente que é errado crescer à custa do consumo. A expansão excessiva do consumo reduz a poupança nacional, agrava o desequilíbrio externo e faz aumentar o endividamento. Foi este desequilíbrio estrutural da nossa economia que esteve na raiz das graves repercussões da crise em Portugal. Importa por isso evitar a sua repetição. A tão apregoada estratégia do Governo de promoção dos chamados setores transacionáveis da economia parece ter fracassado. O Governo foi tímido na implementação das reformas necessárias para o efeito e interrompeu-as há um ano a pensar nas eleições. Este é um facto repetidamente salientado nos relatórios da Comissão Europeia e do FMI. Não admira, portanto, que economia continue débil e estejamos a assistir ao renascimento do velho modelo de crescimento.