Corpo do artigo
A crise dos refugiados e os conflitos armados que a alimentam provocaram um aumento sem precedentes do tráfico de seres humanos, atingindo um volume e proporções superiores aos tráficos de armas e de drogas.
Estima-se que mais de 27 milhões de pessoas no Mundo estão submetidos a trabalhos forçados, das quais uma quarta parte são mulheres obrigadas a prostituir-se.
Alarmado com a situação, o Conselho de Segurança das Nações Unidas acaba de aprovar por unanimidade um documento em que alerta para o recuo civilizacional que representa este tráfico, e a especial vulnerabilidade em que se encontram as mulheres e meninas nas principais áreas de conflito. O Conselho exorta os países a tomar medidas concretas para perseguir tais práticas e chamar os seus responsáveis à justiça.
Os conflitos armados no Médio Oriente e na África Oriental têm propiciado a aparição de novas formas de escravidão e tráfico de pessoas que a justiça internacional e os estados devem combater com maior cooperação policial e judicial.
Muitos dos que fogem ao flagelo das guerras veem-se obrigados a trabalhar como escravos para subsistirem. E as fugas são utilizadas para alimentar o negócio ilegal das máfias, de que também beneficiam, com frequência, aqueles que estão na origem dos conflitos.
Estima-se que, só na Líbia, o Estado Islâmico terá arrecadado, no último ano, mais de 80 milhões de euros em "portagens" cobradas aos refugiados e migrantes. Grupos jiadistas recorrem sistematicamente à violência sexual como arma de guerra e utilizam as prisioneiras como escravas sexuais ou vendem-nas para obter receitas. O Daesh (também conhecido como Estado Islâmico) tem ainda em seu poder mais de três mil mulheres e meninas raptadas no Iraque, desde 2014.
O documento agora aprovado pelo Conselho de Segurança, nas vésperas da posse do novo secretário-geral da ONU, António Guterres, é importante mas não assume a forma de resolução vinculativa. No texto, não há sequer uma referência à ainda tolerada "escravatura branca". Trata-se do tráfico humano para a prostituição forçada em que se encontram milhões de raparigas, principalmente de regiões pobres da Ucrânia, Moldávia, Rússia, Índia ou de países como a Tailândia e as Filipinas, onde a prostituição tem tradicionalmente muito peso. Assim vai a consciência moral das nações, quando nos preparamos para entrar no ano dezassete do século XXI.
*DIRETOR