O gesto insano de Roberto Alvim, fugaz responsável pela Secretaria Especial de Cultura do Brasil, não podia deixar de resultar na imediata demissão. No entanto, o descontrolo da sua tentativa de oficializar o nazismo como doutrina do Governo em exercício não deixa de revelar a grotesca intenção medrando no país e no Mundo. O Mundo já não se entende. Quando as simpatias nazis acontecem, o absurdo é a nova normalidade e qualquer tentativa de razão pode tornar-se uma forma de violência.
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O Brasil derrubou Roberto Alvim através das redes sociais. A Imprensa começou por não assinalar o ocorrido. Foi apenas depois da demissão que o país amanheceu com as parangonas mais desenganadas, as imagens de Alvim e Goebbels lado a lado, irmanados pela mesma desumanidade.
A relevância da pronúncia dos cidadãos nunca foi tão ágil quanto agora para a sua própria defesa. As redes sociais colocaram nas mãos de todos um escrutínio constante, uma espécie de atividade superdemocrática, de ressonância paraeleitoral, que exerce um voto contínuo num ou noutro sentido. De algum modo, votamos todos os dias, atribuímos e retiramos confiança a cada hora.
A Imprensa, tão institucional quanto à deriva, não tem podido quase nada em relação aos destinos da atualidade, o que muda completamente o paradigma da gestão da comunidade. Mais do que sermos simplesmente informados, com as redes sociais somos instantaneamente levados a uma decisão. A partilha de uma ideia, verdadeira ou falsa, já é um contributo para que se pense e faça num determinado sentido. Quero dizer, a partilha que fazemos nas redes já é, mais decente ou leviano, um compromisso.
Não tem de ser uma desgraça, muito ao contrário. O desafio levantado está em nos educarmos a todos para a distinção entre o trigo e o joio, como em princípio fará um editor responsável de qualquer jornal ou revista. A figura prestigiada do editor precisa de ser replicada por cada cidadão, armado finalmente com uma capacidade de ser imediatamente ouvido, passando a competir-lhe o brio de se informar melhor antes de servir de canal para alguma ideia.
A queda de Alvim é o sinal benigno da indignação nas redes, mas começa por representar o limite atingido. A Constituíção brasileira, como a portuguesa, proíbe as manifestações de apoio à ideologia nazi e o que a população conseguiu foi a verificação de um preceito legal máximo. O estranho é que, um pouco por toda a parte, assistamos ao reaparecimento do crime nazi e o discutamos no foro da liberdade de expressão, quando o crime, por definição, não pode ser premiado com qualquer liberdade.
*Escritor