Portugal chegou sempre atrasado ao desafio da educação. Atravessou quase todo o século XX fechado no seu isolacionismo paroquiano, consagrando um modelo de poder que tinha como premissa uma província analfabeta administrada a partir e pelos iluminados da capital. É assim que se chega ao 25 de Abril de 1974 com taxas de analfabetismo ao nível daquelas que se verificavam nos países europeus do Norte em 1900. Os avanços entretanto conquistados na democratização do ensino permitiram a recuperação de muito do atraso nas gerações mais jovens. Mas existia todo um passivo de educação acumulado que está longe de ser resolvido e que é, ainda hoje, a raiz da anemia da nossa economia.
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O crescimento do PIB português verificado nas décadas de oitenta e noventa do século passado, assente na utilização intensiva de mão de obra pouco qualificada, escondeu a realidade escandalosa da persistente iliteracia de uma vasta maioria dos portugueses. Com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio e dos países do Leste europeu na União Europeia, percebeu-se finalmente que o modelo de mão de obra barata não seria jamais futuro para Portugal. Haveria sempre um país, uma fábrica, um trabalhador mais baratos num espaço definido pelo preço. Havia que subir na cadeia de valor e, para isso, a qualificação é condição infraestrutural. De novo, Portugal chega atrasado ao desafio da educação.
Foi num Governo socialista liderado por José Sócrates que arrancou o mais corajoso programa de qualificação de adultos, as Novas Oportunidades. Endereçar um extenso segmento da população, ativo na economia e que nunca completou o Ensino Básico ou o Secundário, não era, como alguns afirmaram, trabalhar para compor as estatísticas. Era, isso sim, permitir que esta geração injustamente remetida ao esquecimento pudesse adquirir competências que lhes permitissem ser mais produtivos e mais competitivos no mercado de trabalho. A interrupção deste programa por parte do atual Governo foi, para além do abandono de toda uma geração, um ato de má política que só encontra justificação numa visão terceiro-mundista do futuro do país e da sua economia.
Segundo o relatório "OECD Skills Strategy 2015", 62% dos portugueses entre os 25 e os 64 anos de idade não concluíram o Ensino Secundário, o que nos coloca nos três piores entre os países membros da OCDE. Urge voltar a olhar para aqueles que foram empurrados para esta condição, muito dos quais engrossam hoje as fileiras do desemprego estrutural. Numa altura em que os partidos preparam os seus programas para a eleição que se avizinha, fica o apelo: deem uma nova oportunidade às "Novas Oportunidades".