À medida que as condições da economia se agravam, começa a ser consensual que estamos a viver uma crise que acontece uma vez em cada 100 anos. Protagonismo que qualquer um de nós, por certo, dispensaria.
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A situação é suficientemente grave para haver economistas que a consideram, mesmo, pior do que a chamada Grande Crise de 1929. A integração das economias mundiais, tanto ao nível real como financeiro e o facto de ter tido o seu epicentro no sector financeiro, dão-lhe um carácter peculiar. O que significa que não estamos bem apetrechados para lhe responder: o passado apenas nos permite retirar ilações parciais quanto aos remédios. Sabe-se que vai ser preciso gastar muito (seja pela via da intervenção pública ou da despesa privada) para reanimar a economia. Que os recursos a aplicar devem ter um efeito rápido. E que é necessário decidir depressa e bem, o que, como se sabe, há pouco quem. O desemprego aparece como o principal flagelo, encabeçando a lista de prioridades. Com maiores ou menores matizes, todos estão de acordo com a necessidade de garantir uma rede social que evite a queda em situações atentatórias dos direitos humanos. Daí até à tentação de começar a despejar dinheiro para cima do problema vai um pequeno passo. Que se dará tanto mais depressa quanto mais centralizado for o Estado: a distância relativamente aos problemas concretos cria uma má consciência que se procura apaziguar com uma abordagem quantitativa, traduzida em números (milhões de euros) e "números" (anunciados com pompa e circunstância).
Depressa e bem! É urgente tomar medidas. Mas não é menos importante a sua eficácia, o seu impacto. Houvera um Estado mais descentralizado e tudo seria mais fácil. O nível central asseguraria a indispensável coordenação, garantindo coerência à intervenção; os órgãos de administração regional estabeleceriam os programas concretos, cada um definido ao nível territorial adequado. Sem esse nível intermédio, resta esperar que o actual Governo tenha o bom senso de confiar em quem está no terreno (os municípios e as instituições de solidariedade social), dando protagonismo e responsabilidade acrescidas às suas instituições representativas (Associação Nacional de Municípios; Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade; etc.). Nessa perspectiva, a reeleição do padre Lino Maia para presidente da CNIS é uma excelente notícia. É um homem em quem se pode confiar. Por ele falam o passado e a obra feita. E a vontade e coragem demonstradas para enfrentar os problemas presentes. "Os tempos são de crise, mas nada que seja superior à nossa determinação", disse ele. Para o futuro, mantém a orientação estratégica de sempre: trabalhar para garantir a inclusão, atribuindo à educação um papel fundamental. No imediato, preocupado com a ruptura do tecido social, avança com a criação de um fundo de coesão social, "um fundo de solidariedade social de emergência para atender a situações precárias" para o qual precisa de financiamento, seja privado ou público.
No encerramento do congresso da CNIS, o ministro Vieira da Silva manifestou a sua vontade de alargar e aprofundar a parceria com a CNIS. O que vier a suceder será a prova ácida do real empenhamento do Governo na descentralização.