<p>1. Já tínhamos percebido que o nosso Governo não está interessado em explicar o que se está a passar com o BPN. Para sabermos que parcela dos nossos impostos será desperdiçada para salvar uma burla disfarçada de actividade bancária, temos de nos fiar, vejam lá, numa das agências de rating que tem contribuído, com as suas "notas", para nos empurrar rumo à bancarrota: diz a Moody's que a CGD já injectou 4600 milhões de euros no BPN para lhe garantir liquidez. A Moody's não diz, mas suspeitamos todos que, este, ou valor parecido, vai um dia destes ser somado ao nosso défice. E perante tal cenário, três deputados socialistas entenderam que era altura de, também eles, pedirem alguns esclarecimentos ao Governo. Ficamos assim à espera de saber a resposta a perguntas tão interessantes como qual é o número de clientes do BPN com dívidas superiores a cinco milhões de euros e quantos desses constam na lista de empréstimos que ninguém vai conseguir cobrar. Mas não tenha o leitor demasiadas expectativas. Muito menos imagine que algum dia vai saber quem são os bandidos que assim forraram contas bancárias na Suíça ou em off-shores. E não vamos saber porque o sigilo bancário é sagrado. Excepto se se tratar de alguém tão pobre que ainda tenha direito a Rendimento Social de Inserção ou a abono de família. Sobre estes, o Estado faz questão de conhecer e dar conhecer todos os números.</p>
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2. Somam-se os lucros de dez das maiores empresas "nacionais", durante os primeiros nove meses deste ano e dá quase oito mil milhões de euros de lucros. Dirão alguns que isso devia ser motivo de contentamento, porque as empresas existem para dar lucro. Nada mais certo. Mas... e que tal, para além de aplaudir, tomar também algumas medidas "corajosas" e obrigar os "investidores" a darem uma contribuição generosa para combater a crise? Bom, isso aí colide, mais uma vez, com as leis dos mercados, que não têm culpa nenhuma que os portugueses se entretenham a contar tostões enquanto eles negoceiam milhões. Pelo caminho ficámos a saber, aliás, que a empresa campeã dos lucros, a PT, não só não terá de fazer um esforço fiscal maior, como não fará esforço nenhum. Dito de forma mais explícita, vendeu uma operadora brasileira por 7,5 mil milhões de euros, com uma mais-valia de 4,5 mil milhões de euros, mas paga zero de impostos. E vai distribuir 1,5 mil milhões de dividendos relativos ao negócio, mas os investidores também estarão a salvo do Fisco. Desde logo porque a maioria (70%) são estrangeiros, mas também porque os que são portugueses, recebendo ainda este ano, e não no próximo, "poupam" 70 milhões em impostos. Não está mal, até porque é tudo legal. Medidas extraordinárias para evitar vergonhas destas, nem pensar. A "coragem" (até ver) esgotou-se toda no corte de salários, no congelamento das pensões e na redução de subsídios sociais aos mais pobres entre os pobres.