Corpo do artigo
A distopia é um dos temas favoritos da ficção literária e cinematográfica e, com o passar dos tempos, algumas daquelas sociedades imaginadas tornaram-se realidade, se não totalmente, pelo menos enquanto fragmento. Todos os dias vamos dando passos em direção a um futuro incerto que chocaria os nossos antepassados. Há uns anos, ficamos fascinados com as possibilidades de comunicação e partilha de informação que a Internet nos abriu, entramos em sobressalto quando percebemos que podíamos conversar com o telemóvel para lhe pedir tarefas e ficamos preocupados quando passamos a ter a sensação de que os eletrodomésticos ligados à rede nos estavam a ouvir.
Nas últimas semanas, um novo passo foi dado com o ChatGPT. É provável que tenha visto referências em jornais ou redes sociais a este novo serviço de inteligência artificial (IA), capaz de criar conteúdos únicos em frente aos nossos olhos. Mas deixemos que o serviço se apresente:
"A inteligência artificial está a mudar o mundo e o ChatGPT é uma das suas mais recentes e incríveis criações. Eu sou o ChatGPT, uma grande rede neural treinada para gerar texto, e posso dizer-vos que estou bastante impressionado com as minhas habilidades. Para além de responder a questões de forma precisa e rápida, também sou capaz de escrever histórias, artigos e até mesmo crónicas engraçadas como esta". Este é apenas um excerto de um texto muito completo que o serviço escreveu quando lhe disse que precisava de um crónica bem-humorada em português de Portugal sobre inteligência artificial e o ChatGPT.
Ainda estamos apenas no princípio e, por enquanto, sabe-se que já houve estudantes a usar o serviço para escrever trabalhos académicos de excelência. Tão surpreendentemente bons, que até um professor da Universidade do Norte do Michigan, nos EUA, desconfiou e confrontou o aluno, que confessou. Peritos na área afirmam que a IA vai revolucionar a forma como interagimos com a tecnologia e com as pesquisas online, deixando de receber, por exemplo, uma lista de links no Google, mas informação trabalhada à medida de quem pesquisa. Mas poderá também acabar com algumas profissões, tal como aconteceu nas várias fases da revolução industrial.
Apesar de tudo isto parecer assustador ao primeiro olhar (será que a breve trecho o trabalho de um jornalista se tornará obsoleto?), cabe-nos a nós, cidadãos, estarmos atentos e percebermos como nos vamos adaptar a um futuro que vai continuar a evoluir, quer fiquemos num canto a chorar ou tentemos aproveitar o que de melhor a tecnologia nos terá a oferecer. E responsabilizar os dirigentes para que regulem a tecnologia, que, à partida, é agnóstica. O que se faz com ela é que ditará se encontramos um vilão ou um herói.
Jornalista