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Discretamente, e para não falarmos do resultado de ontem à noite, o último Relatório de Segurança Interna revela que Portugal está no mapa das redes que transacionam material usado em programas de armamento nuclear. Lemos, e é para o lado que dormimos melhor, soa a ficção, 1 de abril. E, no entanto, o tempo que leva a ler este texto chega para que o presidente dos Estados Unidos ordene uma resposta nuclear a um ataque do mesmo tipo. Pum! Assim, como nos filmes. Pode ocorrer, mas Deus nos livre. No momento em que jurou, em 20 de janeiro, Trump tinha no bolso o cartão com os códigos de lançamento. Foi o último objeto que lhe passou Obama.
Dos sete mil milhões que habitamos o Planeta apenas uma ínfima parte terá vivido num tempo sem bombas atómicas. Mas quase nos esquecemos que elas existem. Com o fim da guerra fria e o temor que ela provocava, deixámos de acompanhar essas miudezas sobre os instrumentos de morte. Alguém ainda se lembra da bomba de neutrões, capaz de destruir apenas organismos vivos? A mais cínica das armas permite eliminar os inimigos e apoderar-se dos seus recursos, mantendo as infraestruturas e as cidades intactas. Ora, essa bomba não só existe como tem sido aperfeiçoada. E vários países têm-na. Assim como as bombas de pulso eletromagnético, capazes de, em segundos, antecipar o inferno nas cidades em que vivemos.
Num Mundo de bons e maus, para que essa tragédia aconteça nem é preciso que haja maus. Entre humanos, basta o erro ou o acidente de um dos bons. Segundo o Departamento de Defesa americano, desde 1950 já se registaram várias dezenas de incidentes graves com armas nucleares pelo meio. E sabe-se agora que ainda há pouco o ex-presidente Obama se manifestava preocupado com a possibilidade de o sistema informático de controlo nuclear poder ser pirateado.
O Mundo mudou, o poder e o acesso às armas também. O verdadeiro perigo não reside nos que cometem erros ou se esqueceram das armas nucleares, mas de quem sonha com elas - sejam terroristas ou outros tresloucados, mesmo que investidos de soberania. E o terreno vai fértil para os traficantes de átomos e para os compradores de sonhos de grandeza. O mais preocupante já não é aquele cartão na algibeira de Trump (ou de Putin) mas o que se trafica no bazar da geopolítica. O poder letal está hoje no controlo das redes, é a ciberguerra, seja ela travada nos algoritmos que comandam os sistemas de informação e as redes sociais ou no acesso ao código que faz disparar os mísseis. O 007 já não é o que era. Mas ao menos é domingo.
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