Cinquenta anos depois, do nada, surgiu uma polémica em volta das comemorações do 25 de Novembro. Do nada, alguns dos sobreviventes desse dia e que estiveram do mesmo lado da barricada decidiram discordar. Foi pena. A data e o momento mereciam mais respeito institucional. Criou-se uma comissão presidida por um militar prestigiado, tenente-general Tomé Pinto, e que foi adjunto de Ramalho Eanes no posto de comando.
Para memória futura ficam as interpretações de muitas pessoas que ou eram crianças na época ou nem sequer tinham nascido. Mas, as interpretações daqueles que naquele dia o viveram, essas são mesmo referenciais.
Sabemos o que Zita Seara sabe do momento que viveu no PCP. Vimos, através de Vasco Lourenço, o que o tenente Luís Pessoa, militar e militante do Partido Comunista, disse do comportamento do PCP e vamos sabendo, aqui e ali, outros pormenores do dia.
Este teria atendido uma chamada de Jaime Serra, pelas 5 da manhã, com ordens para avançar, isto está escrito num documento que este militar deixou na Associação 25 de Abril. Esta talvez seja a prova mais assertiva do envolvimento do PCP e da esquerda militar no movimento que o processo revolucionário, desde o 11 de Março, estava a viver. Podemos sempre retirar daqui algumas conclusões. Pessoalmente, para mim, foi o momento em que novembro, o mês do meu aniversário, se conjugou com abril. Foi o momento em que afastamos a ameaça e a possibilidade de um poder popular de matriz soviética. Ultrapassado que estava o momento da descolonização, nada mais, no quadro da guerra fria, obrigava Portugal a estar a viver aquele clima revolucionário.
Muitos homens se destacaram naquele momento, como Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Melo Antunes ou Ramalho Eanes. Contudo, há um que é pouco referido, mas que todos os depoimentos o vão ter sempre como um elemento-chave. Francisco Costa Gomes, o então presidente da República, conhecido como o Rolha desde o seu tempo do Colégio Militar e com quem Vera Lagoa travou lutas célebres.
A esse homem, para quem a política parecia ser um jogo de sombras, provavelmente devemos não se ter vivido, em Portugal, uma guerra civil. Ao declarar o estado de sítio e chamar Álvaro Cunhal a Belém, deixou claro que a maioria das Forças Armadas não estava com o PCP: Cunhal declarava que também o seu partido não queria nenhum confronto. Jaime Serra, doze horas passadas do primeiro telefonema, tentava convencer o tenente do SDCI de que era hora de recolher.
Otelo e a sua esquerda militar foram abandonados ao sabor dos acontecimentos.
A questão que se pode colocar agora é se devemos comemorar o 25 de Novembro. Faz todo o sentido recordar a data e comemorar o dia, em particular este ano, porque são 50 anos e muitas gerações não compreendem como o dia foi muito importante. Prova disso é o desconhecimento de muitos dirigentes do atual Partido Socialista.

