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Ninguém sabe ao certo como esta guerra teve início – e, mais inquietante ainda, ninguém consegue antecipar como poderá terminar. O que se sabe é que o conflito entre Israel e o Irão é denso, altamente perigoso e com potencial para arrastar diversos países, atingindo proporções imprevisíveis. Ontem, a revista norte-americana “Time” titulava que está em curso a redefinição de um novo Médio Oriente, no qual ambos os países reconfiguram alianças e redimensionam esferas de poder. Desta transformação poderá emergir um desastre de proporções graves. Que importa evitar a todo o custo.
É inegável que um Irão com armas nucleares representa uma ameaça temível não apenas para Israel, mas para o Mundo em geral. Contudo, como salientava ontem o site The Economist, uma guerra contra o Irão não erradica essa ameaça: pode destruir instalações e atrasar programas, mas não apaga o conhecimento científico acumulado.
Num cenário ideal, o conflito levaria à queda do regime iraniano e à emergência de um novo Governo, menos obcecado com o desenvolvimento do programa nuclear. Todavia, acreditar nessa possibilidade é navegar num mar de incertezas: ninguém sabe se tal alternativa política terá capacidade de se afirmar e, mesmo que o consiga, não é seguro que abdique do nuclear. Para já, a sobrevivência do regime iraniano é uma questão existencial para o próprio Irão. E isso pode desencadear uma vaga de retaliações, nomeadamente sob a forma de ataques terroristas em várias geografias ou de manipulações crescentes no preço do petróleo, conduzindo a um cenário de caos com consequências imprevisíveis.
Segundo os média internacionais, só a diplomacia poderá delinear caminhos para a paz e, nesse processo, os Estados Unidos terão um papel determinante. Todavia, o Irão apenas aceitará essa via se sentir que o seu regime está em causa. Do lado israelita, cresce a ambiguidade. Ninguém duvida de que Benjamin Netanyahu deseja ser visto como o homem-forte do Médio Oriente. Para isso, não poupará esforços, incluindo a opção pela guerra. No entanto, como adverte o “Courrier International” em editorial, a fronteira entre a coragem e o delírio é, neste caso, extremamente ténue. Neste momento, Netanyahu é o rosto de uma guerra para a qual ninguém vislumbra uma vitória clara. Nem no Irão, nem em Gaza.
Nos bastidores, surge uma figura improvável como eventual ponte para a paz: Vladimir Putin, o homem com relações privilegiadas tanto com Teerão como com Telavive.
Esta movimentação ocorre num momento em que antigos inimigos se tornam aliados discretos de Israel, baralhando ainda mais um tabuleiro já de si complexo. Neste contexto, subsiste uma pergunta que serve de título à capa da revista “The Economist” esta semana: como é que isto vai acabar?