O acesso ao ensino superior
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O Concurso Nacional de Acesso ao ensino superior decorre em três fases e apenas conhecemos os resultados da primeira. Além disso, as alterações ao acesso introduzidas em 2023 entram em vigor este ano, pela primeira vez: calendário antecipado, novas regras de ponderação dos exames e aumento do número de provas de ingresso, agora no mínimo duas, com peso mínimo de 45%. Há ainda a considerar o efeito da variação das taxas de sucesso no secundário. Assim, é prematuro retirar conclusões definitivas.
Contudo, os sinais são preocupantes. O número de candidatos caiu 15,4% face a 2024; o de colocados, 12,1%; e o de vagas sobrantes, que passam para a segunda fase do concurso, cresceu 130%.
Em termos regionais, houve menos 21% de colocados nas "regiões de menor procura e menor pressão demográfica", 16% menos nas "regiões de maior pressão demográfica fora de Lisboa e Porto" e 5% menos colocados em Lisboa e Porto.
O impacto sentiu-se em quase todas as áreas. Em Medicina houve 1647 colocações, menos 12 que no ano anterior - porque foram oferecidas este ano menos 12 vagas.
Nos 34 cursos de Ciências de Educação, o número de vagas cresceu 14%, o de colocados 11%, mas o número de vagas sobrantes cresceu 96%. Este número, que baixou de 364 em 2019 para 54 em 2024, elevou-se este ano a 106.
Nos 35 cursos de Ciências Físicas, houve menos 29% de colocados e as vagas sobrantes duplicaram. Em Serviços Pessoais (área que inclui Desporto e Turismo), o número de colocados baixou 36% e as vagas sobrantes quadruplicaram. Em Engenharia, foram colocados menos 1051 estudantes, uma quebra de 12% para 2024. Em Informática, houve menos 31% de colocados e o número de vagas sobrantes cresceu 140%. Estes números merecem reflexão.
Segue-se a fase das matrículas. Transportes e alojamento estudantil, pela escassez ou pelo custo, podem vir a afastar potenciais estudantes. Esperemos que as medidas entretanto tomadas surtam efeito.
Em simultâneo, empresários continuam a alertar para as dificuldades de recrutamento, sublinhando o papel crucial do ensino superior na valorização profissional e na modernização da economia.
Por isso, importa garantir que o acesso ao ensino superior permanece aberto O país precisa de um ensino superior de qualidade, equitativo e capaz de atrair e formar os jovens de que a sociedade e a economia necessitam. A análise dos resultados finais deste concurso nacional de acesso, quando disponíveis, bem como do seu contexto e calendário a nível do secundário, deverá ser acompanhada da coragem de introduzir as melhorias que o futuro exige.