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Isaac Nader não fará parte da comissão de honra de André Ventura, mas é tão português como o filho do senhor João Manuel Ventura, dono de uma loja de bicicletas em Algueirão, e da senhora Ana Maria Ventura, administrativa num escritório de Lisboa. Isaac, filho de mãe algarvia e pai marroquino, é o nosso campeão do Mundo, o nosso novo herói. De apelido magrebino, mas português dos pés à cabeça, tem sido atacado por australopitecos que o aconselham a ir para a sua terra, um absurdo. É que Isaac não tem ligações a Marrocos, não fala árabe, não segue as tradições nem conhece nada de Rabat, Marraquexe ou Casablanca. Nasceu em Faro num quente mês de agosto, não sabe andar de camelo, mas é maluco por figos cheios e dom-rodrigos, sabe tudo sobre a ria Formosa, conhece os segredos das dunas e distingue sem hesitações os patos-mergulhões das chilretas ou antecipa, como qualquer algarvio que se preze, o voo das cotovias. Conhece as ilhotas e os faróis, apaixonou-se nos areais a perder de vista como todos os adolescentes farenses e jogou à bola no São Luís antes de trocar o sonho do futebol pelo atletismo. Isaac fica de boca aberta quando lhe dizem que há portugueses de primeira e segunda, porventura terá pensado nisso quando, de lágrimas nos olhos, beijou a única bandeira que conhece, o símbolo de um país que hoje é ouro graças a este menino, namorado de Salomé, outra enorme atleta que desistiu de ser médica para, ao lado de Isaac, provar que Portugal é isto. Sonho, grandeza, tolerância, coragem e destino.