Corpo do artigo
Sobre algoritmos que podem manipular eleições, calados. Sobre empregos que a automação ameaça, silêncio. Sobre literacia digital, nada.
Estamos em campanha eleitoral, na verdade em duas (autárquicas e presidenciais) que se atropelam no tempo, mas também nas promessas e nas declarações de intenções. É certo que não há nenhuma dúvida sobre os assuntos que mais importam aos portugueses: habitação, saúde, educação, salários e impostos. No entanto, é necessário colocar a inteligência artificial na ordem do dia. Necessário porque impacta, e de forma substancial, em praticamente todos os temas. Não chegam chavões sobre inovação e modernização. É preciso começar a agir no sentido de proteger os direitos digitais dos cidadãos. No fundo, proteger a democracia.
O Parlamento italiano, por exemplo, aprovou esta semana uma lei abrangente de inteligência artificial que regula deepfakes, protege menores de idade, define direitos de autor para obras criadas com auxílio de algoritmos e estabelece sanções rigorosas para usos abusivos. O Governo de Giorgia Meloni nomeou a Agência para a Itália Digital e a Agência Nacional de Segurança Cibernética para fazer cumprir a nova legislação, que recebeu aprovação final no Parlamento após um ano de debate.
Em Portugal, pouco consta do guião político. A inteligência artificial já molda decisões e opiniões. Já escuta. Já fala. E, se a política não começar a ouvir, corremos mesmo o risco de que sejam as máquinas a moldar o futuro da democracia. É hora de colocar a inteligência artificial na agenda política, não como detalhe secundário, mas como prioridade estratégica.