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Por que razão é que António Costa aceitou, sem contestar, o valor do défice em Portugal considerado pela Comissão Europeia, de 3,2 % do PIB em 2015, sem contabilização das ajudas extraordinárias à Banca, quando outras entidades o fixavam em números inferiores - INE 3% e Eurostat 2,8% - sabendo-se que na diferença estaria, eventualmente, a decisão de aplicação, ou não, de sanções a Portugal?
A resposta óbvia está no álibi que o PS precisa para uma governação desastrosa que rasga compromissos e faz reversões e que em pouco mais de seis meses inverteu todos os indicadores positivos alcançados pelo PSD e o CDS e fez disparar os alarmes junto dos credores e dos mercados.
Um défice superior a 3 % em 2015 permitirá ao PS argumentar com desfaçatez que o anterior Governo falhou. E lá para o final do ano, quando se confirmar nova hecatombe nas contas públicas, a culpa, claro, será das sanções.
Tenhamos presente que Pierre Moscovici, Comissário para os Assuntos Económicos e Financeiros, é quem mais se esforça na defesa de sanções a Portugal. Um comissário, sublinhe-se, que foi ministro das Finanças do Governo socialista de François Hollande, mas que em 2013 recusara as exigências de défice que a Comissão Europeia fizera à França, louvado pelos socialistas portugueses, que encarnavam no personagem a luta pelo fim das políticas de austeridade.
Agora, noutro papel, Moscovici adianta que sanções a Portugal por défice excessivo em 2015 terão que ser aplicadas "com inteligência" e "sem vontade punitiva". Acontece que "sancionar", quando não se trate de concordância, é um substantivo que significa "parte da lei em que se estabelece a pena; castigo ou medida de coação." (Priberam). Por isso, sanção dita inteligente, ou não punitiva, é coisa que não existe, por contradição insanável nos termos. O que Moscovici tenta não tem nada de inteligente. É só chico-espertismo
Com o PS no Governo em 2010, o défice atingiu um valor recorde de 11,2 %. Significa que a redução conseguida para 3% em 2015 pelo PSD e o CDS, mais décima, menos décima, a par da aplicação de um programa de ajustamento imposto pela Comissão Europeia com impacto recessivo, só poderia justificar louvor. Nunca castigo.
Entre 1999 e 2015 a França incumpriu sem permissão as metas do défice 11 vezes, a Grécia e a Polónia 10, o Reino Unido 9, a Itália 8, a Hungria 7, a Alemanha e a Irlanda 5.
A Comissão Europeia poderá propor sanções, mas é ao Conselho, onde a família PPE representa seis governos apenas, que competirá decidir. Os socialistas são muitos mais. Sanções a Portugal, só se a Esquerda quiser.
DEPUTADO EUROPEU