Entramos em 2022 com a pandemia por controlar. Todavia, o ano que acaba fica marcado pelo processo de vacinação maciça a partir do final do Inverno fatal de 2021, o que muito ficou a dever-se ao grupo de missão militar chefiado pelo agora almirante Gouveia e Melo.
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Acentuo a componente militar, que senti particularmente nas duas vezes em que me desloquei a um centro de vacinação em Lisboa, porque acredito que sem ela teria sido mais um desastre burocrático. Os reforços e os novos processos de vacinação continuaram sob a supervisão de outro militar, veterinário, mas longe da eficácia e da eficiência demonstradas até à dissolução do grupo de missão original. Gouveia e Melo, num país carente de protagonistas fora do "sistema", acabou por ser a figura nacional do ano para a generalidade dos meios de comunicação oficiosos. Não se via um interesse assim por um militar desde 1975, quando Ramalho Eanes saltou para chefe de Estado-Maior do Exército na sequência do "25 de Novembro", e, seis meses depois, era presidente da República e CEMGFA Gouveia e Melo "revolucionou" o processo de vacinação, tornando-o "exemplar" cá dentro e lá fora. Entretanto, Portugal, nesta matéria, descolou para baixo quando se compara a situação actual com a que vigorou praticamente o ano todo. Enquanto isto, Gouveia e Melo subia no estrelato regimental. Tanto que substitui hoje o chefe de Estado-Maior da Armada o qual, numa mensagem aos seus militares, deixou claro não ter saído por vontade própria. O que envolve o novo CEMA no processo político, e vice-versa. Num primeiro momento, a opinião pública ficara com a sensação que Gouveia e Melo fora removido das vacinas por razões políticas. Até Marcelo contribuiu para a suspeita quando pareceu ter suspendido, em directo, a rápida ascensão do novo almirante ao cargo máximo da Marinha. Pelo caminho, Gouveia e Melo continuava a alimentar a sua aura, ganhando prémios, globos de ouro, "primeiras pessoas" e a fama de poder aspirar a Belém. Eis, porém, que o almirante tomou partido. Partido pela nova legislação das Forças Armadas - do PS, do PSD e de Marcelo - que diminui o papel dos chefes de Estado-Maior das armas face ao CEMGFA. Um chefe militar que aceita substituir outro nesta ecologia política e legislativa específica, primeiro concorda com ela e, quem sabe, a seguir visa mais alto. Vacinas e tropa são serviço público de lealdade e mérito. Por consequência, ninguém tira a Gouveia e Melo o mérito do primeiro daqueles serviços. Teremos de esperar algum tempo para avaliar o resto.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
Jurista