Cumpriram-se no passado dia 8 de fevereiro 20 anos desde que António Guterres procedeu ao fecho da barragem do Alqueva.
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Nunca houve consenso sobre esta obra estrutural para o futuro do Alentejo. A mim próprio causa-me alguma confusão que uma obra desta envergadura não esteja suportada por um plano estratégico de desenvolvimento.
Este projeto avançou por decisões mais ou menos voluntaristas dos decisores políticos governamentais dos últimos 30 anos, processo este que eu denomino cinicamente de "método planeamento português tradicional".
Resultados?
1. O que se obteve com este investimento público dos portugueses e dos europeus está muito aquém do que seria desejável, quer no propalado sucesso económico e das exportações agrícolas, quer do ponto de vista ambiental.
2. A agricultura e a agroindústria deveriam ter caminhado em parceria no tempo e no território, como forma de alavancar a valorização dos produtos e a criação de emprego.
Só nos últimos anos, passados mais de uma dúzia de anos desde o fecho da barragem, houve áreas de acolhimento empresarial disponíveis para instalar agroindústrias de envergadura.
3. Deveria ter-se partido de um ordenamento regional ou pelo menos tê-lo feito nos últimos anos, um sistema pouco rígido na imposição de culturas, muito exigente no respeito pelos ecossistemas naturais de elevado valor, assim como na imposição de mosaicos de culturas. A ausência destes instrumentos de ordenamento do território levou à inexistência dos mosaicos agroflorestais e ao aparecimento da monocultura do olival.
4. É estratégico avaliar hoje o que existe plantado, do ponto de vista agronómico e ambiental, social e da gestão da água de rega, fazer uma auditoria técnica, ambiental, económica e financeira, às infraestruturas do regadio do Alqueva e ao seu funcionamento, incluir a análise probabilística de retenção de água para os próximos 30 anos, bem como a previsão da respetiva qualidade.
A partir daqui, há condições para se planear o que se pode fazer adicionalmente com a água disponível do Alqueva e promover o desenvolvimento sustentável do Alentejo.
*Consultor agrícola