O fim do ano é propício a reflexões e a balanços. Apesar do espírito da época, somos todos influenciados pelos acontecimentos e pelas tragédias mais recentes e por isso a avaliação não pode ser positiva. O difícil, por vezes, é mesmo encontrar algum motivo de esperança num futuro mais próspero e civilizado.
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A economia. Os indicadores do emprego e do défice já eram bons e melhoraram um pouco. Mas as boas notícias ficam-se por aqui, não chegando para contrariar o aumento da dívida, a desaceleração do crescimento e o retorno do endividamento das famílias a níveis absurdos, a caminho do que sucedia antes da bancarrota. As empresas continuam a trabalhar bem, a exportar e a precisar de mão de obra. O Estado continua, pelo seu lado, a encarregar-se de sorver grande parte da riqueza privada.
O país. Está em mau estado de conservação, vítima da ignorância e da negligência. As desgraças sucedem-se, as tragédias assustam e os inquéritos nada explicam. A responsabilidade está como a culpa: perigosamente solteira. O Governo é incapaz de restaurar um mínimo de confiança no funcionamento do Estado ou um vestígio de fiabilidade nas infraestruturas a seu cargo. Os hospitais não operam, o socorro não socorre, a segurança é discutível e a tropa entretém-se a assaltar quartéis. Já para não falar nos opostos perfeitos entre o país de Lisboa e arredores e o resto, a começar pelo chamado interior. Viver em Portugal é, cada vez mais, uma aventura e uma prova de resistência.
A política. Como na generalidade do mundo ocidental, a política portuguesa tornou-se a ciência da demagogia básica e da ausência de respostas objetivas. Não só a maioria parlamentar não tem ou estratégia ou programa como a oposição não apresenta alternativa, entusiasmo ou remedeio. Salva-se o primeiro-ministro, porque apesar de tudo consegue manter a gestão corrente de forma até ver satisfatória. Desde que, claro, esqueçamos as reformas que podiam e deviam ter sido feitas. Já o presidente da República, influente, presente e próximo, está num patamar superior. Sendo respeitado, admirado e consensual, o certo é que não é suposto, como sabemos, ser solução para os dramas correntes.
A sociedade. Os portugueses vivem com algum dinheiro mais no bolso e com muito mais dívida aos bancos. Estão outra vez a comprar casa e carro novos e a marcar férias no estrangeiro. Não é que trabalhem melhor ou que façam menos greves, pelo contrário. Antes navegam a onda de uma boa conjuntura e de um Governo simpático, que promete dar tudo a todos. Quando há calamidades, são solidários e organizam linhas verdes e galas na televisão. Afinal, não custa nada ser feliz e contente. Desde que não venha ninguém lembrar que um dia vai ser preciso pagar a conta.
Empresário e Pres. Ass. Comercial do Porto