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Tal como o vento não se detém perante muros, as mudanças de ano geralmente não marcam um antes e um depois, por muito sentido que faça o suplemento de ânimo que é traçarmos novas metas e novos desafios no último dia do ano.
Assim um dos mais graves problemas da economia portuguesa, a estabilidade do sistema financeiro, continua a ser premente em 2017, como já o tinha sido em 2016, em 2015... e seguramente podemos recuar até 2008, numa demonstração do grau de dificuldade e de atrapalhação que este problema envolve.
Nem a vontade de António Costa de ver tudo resolvido até ao final do ano que passou, nem o sublinhado do presidente da República, de que essa era uma das resoluções de Ano Novo, foram de molde a dissipar o espectro que atingirá o contribuinte. O "contribuinte" sim, porque esta é uma história que não sabemos bem como começa, mas já sabemos como acaba.
Se ontem o problema era CGD (continua a ser), hoje é Novo Banco. Em cima da mesa, onde antes já esteve uma proposta de 3,5 mil milhões, está agora uma de 750 milhões, mais outro tanto para recapitalização e uma garantia a ser prestada pelo Estado de mais de 2 mil milhões, para atender a imparidades ou a quaisquer encargos legais futuros.
Lembram-se como isto ia estar resolvido em seis meses e já lá vão dois anos e meio? De como não ia custar nada aos contribuintes, mas como hoje se sabe que é impossível recuperar os 3,9 mil milhões do Fundo de Resolução de que, pelo menos em parte, vamos ter que cobrir? De como o ex-secretário de Estado Sergio Monteiro irá receber perto de meio milhão de euros para preparar uma venda que, afinal, está longe de estar concluída até porque ultrapassa uma das "linhas vermelhas" traçada pelo Governo a de o Estado ter de prestar garantias?
Aqui chegados e mesmo percebendo a vontade do Governo de passar, quanto antes, este problema para privados é preciso assumir que já não há banco que nos assuste. Dado o tempo que já passou, o dinheiro investido e a importância do Novo Banco para a economia portuguesa, os responsáveis políticos estão no momento de encarar o problema sem peias. Reprivatize-se, nacionalize-se, negoceie-se com a Europa, venda-se às fatias, mas decidam-se. As contas que ditem a solução menos custosa. As mentiras e os preconceitos ideológicos é que já perderam toda a validade. O que já não podem de maneira nenhuma fazer é quebrar ainda mais a confiança dos lesados do BES. De todos nós.
* SUBDIRETOR