Jesus desapareceu várias vezes na última semana. Uma, já seria notícia. Várias, é um cataclismo.
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Primeiro, desandou do "Glorioso", o que nos coloca na zona do paradoxo: sendo Jesus a Luz, como pôde dela desaparecer? E para onde foi, para o Céu? Não, foi para Bruno, porque Bruno paga que até dói e o Sporting é o céu deste Jesus desde pequenino (esta é a parte cómica, podem passar à frente).
Tendo Jesus caído nos braços e tropeçado no livro de cheques de Bruno, já não pode voltar à Luz. O SLB proibiu-o de lá voltar a pôr os pés, está agora condenado à maldição de não poder regressar à casa-partida.
Convenhamos, o SLB fez birra, e até se compreende. Sendo atribuíveis a Jesus três milagres vermelhos - em Portugal diz-se títulos - ter fugido é mais ou menos como se, numa final da Liga dos Campeões, Jesus passasse a bola a Herodes (a Pilatos não podia ser, nunca mais rematava e ainda se punha a perguntar ao público para que lado devia ir).
Para o benfiquista médio, portanto, um pesadelo: pior do que para Bruno, só se tivesse ido para Jorge Nuno.
Jesus desapareceu uma segunda vez quando foi apagado da Luz.
Há zonas sísmicas, há zonas balneares: e há a Luz, que é uma zona de apagões.
Com o apagão de Jesus, no entanto, eleva-se a magia a outro patamar. Estava ele todo pimpão num cartaz, rodeado de jogadores e um 34 por cima, e zás, foi-se, desapareceu da foto. Ficou só uma mancha negra.
Dizem agora que Jesus é um vendido e um sem carácter. Fosse eu benfiquista e dizia o mesmo, ou pior. Mas, um segundo apagão? Não será um pouco de mais, com um cheirinho a totalitário e a enxofre? E se perguntarem agora ao presidente do Benfica quem era o treinador do clube, ele vai responder o quê? Era o Mancha Negra? O Zorro da mascarilha?
Seis milhões de viúvas e viúvos, é muita coisa. Ora, se Pedro negou Jesus três vezes, o SLB vai a caminho de o negar resmas delas. Mais vem ao de cima, afinal, a dor absoluta da absoluta ausência de Jesus.
Nos braços de Bruno, Jesus deve é estar a rir. "Doeu-lhes a valer", pensa. "Já estão como a raposa a suspirar pelas uvas, balbuciando despeitada: estão verdes"!
Eu disse verdes? Desculpem, foi sem querer.
Nota: Este artigo é dedicado ao Manuel Sampaio Pimentel. Ele sabe porquê.