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Cumpriu-se a tradição. Mais uma Festa do Pontal, no calçadão da Quarteira. Este ano, surgiu uma novidade. A onda social-democrata incluiu umas dúzias de convidados do CDS, comandados pelo seu líder, Paulo Portas, prenunciando um processo de imersão laranja que tem tudo para absorver a direita.
Nos discursos, nada de verdadeiramente novo ao nível do conteúdo. A fórmula da coligação é conhecida e há de ser repetida até ao dia 4 de outubro. Primeiro, o autoelogio através da narrativa da recuperação do país, assente em estatísticas do desemprego reconhecidamente "marteladas" e índices de crescimento que, afinal, até a Grécia regista. Depois, os papões. O regresso ao socialismo que afundou o país, e, ainda, a referência à Grécia, procurando invocar um qualquer paralelismo ridículo entre os socialistas portugueses e o Syriza helénico.
A grande novidade é a subida de Paulo Portas ao púlpito. Um momento único, é preciso dizê-lo, porque o futuro não prenuncia muitas outras oportunidades. É que o CDS, enquanto partido político, independente, personalizado e com agenda própria, poderá ter os dias contados.
A presença do partido da direita naquela que é a festa emblemática do PSD é uma espécie de capitulação, que de resto já se adivinhava. Paulo Portas é hoje um solista sem orquestra, preocupado com a agenda dos seus concertos, que vai paulatinamente hipotecando a existência do seu partido.
A avaliar pelas sondagens, a redução da massa eleitoral da coligação pode significar que o CDS valerá nas próximas eleições um máximo de cinco deputados. O tal partido do táxi. Por outro lado, ao longo da legislatura, foi deixando cair as suas bandeiras, dos direitos dos reformados à defesa dos agricultores, remetendo os seus ministros ao papel de verbos de encher comandados pela ministra das Finanças. Foi, aliás, esse o contexto que terá feito Paulo Portas apresentar a famosa demissão "irrevogável", recusando a submissão a Maria Luís Albuquerque. Sol de pouca dura, contudo, porque o interesse de Portas falou mais alto que o interesse do seu partido.
Não deixa de ser irónico o protesto de Portas por ter sido excluído dos debates dos líderes candidatos às legislativas. Não terá percebido que, ao alienar desta forma a autonomia do seu partido, se remeteu ao papel de apêndice do PSD? Teremos, no futuro, uma réplica à direita daquilo que, à esquerda, observamos entre o Partido Comunista e os Verdes?