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Poucas indústrias vivem tanto de expectativas como o futebol. Por isso é que a época do defeso, que agora vivemos, é uma competição dentro da competição, em que os grandes (só esses) medem forças e exibem troféus, sem saberem, em muitos casos, se a aposta foi no cavalo certo. Mas gerando, independentemente do desfecho, uma trama típica das novelas românticas de gosto duvidoso.
Este ano, e a um mês do fecho do mercado, já foi batido um recorde de investimento. Nada mais nada menos do que 250 milhões de euros - contabilizando aqui só os gastos de F. C. Porto, Benfica, Sporting e Sporting de Braga, os quatro clubes que se têm revelado mais aptos a efetuar apostas financeiras significativas.
Estes não são números que possamos ignorar, sobretudo quando se olha para a realidade do campeonato, onde o fosso entre a cabeça e a cauda do pelotão é gritante. Há dias, José Mourinho, numa belíssima entrevista no canal 11, dizia isso mesmo: que o futebol português (e a interpretação livre é minha) é monótono porque ganham sempre os mesmos. E, por essa razão, esvaziado de interesse quando visto a partir do exterior.
Depois, não podemos ignorar que os gastos mais avultados envolvem jogadores estrangeiros, algo que, dada a vocação formadora dos principais emblemas nacionais, acaba por se traduzir numa enorme contradição. A verdade é que as fornadas de jovens futebolistas que Portugal produz todos os anos não são devidamente aproveitadas pelos donos da bola. Com isso, inflaciona-se a indústria para servir a tal bandeja de expectativas. Sem que, no final, a economia do futebol seja devidamente valorizada fora do nosso fervoroso retângulo.