Costumamos aprender, na geopolítica e na geoestratégia das relações internacionais, com Graham Allinson, que existe o risco de uma armadilha de Tucídides que pode conduzir-nos a uma guerra quando a potência emergente ameaça o domínio de uma outra potência.
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O conflito entre os Estados Unidos e a China vai ganhando aspetos preocupantes para uma cena mundial que se tem já de confrontar com o conflito entre a Ucrânia e a Rússia.
O facto de, recentemente nos céus dos Estados Unidos, terem sido encontrados dois balões chineses, aparentemente perdidos e em missão de avaliação do clima para a China, supostamente em missão de espionagem, no estado de Montana onde se encontram os silos nucleares, evidencia como está a aumentar a escalada entre ambas as potências. Primeira consequência foi o adiamento da viagem, a Pequim, do secretário de Estado, Antony Blinken , que iria tentar dar consequência à convergência de pontos de vista na cimeira entre Xi Jinping e Joe Biden.
Depois da visita de Nancy Pelosi a Taiwan e da aplicação, antes do tempo, de legislação restritiva das liberdades, em Hong Kong e Macau, uma nova frente se abre na relação entre dois estados decisivos para o equilíbrio desta nova guerra fria.
A guerra comercial pelo preço dos produtos a levar aos mercados mundiais aliada à procura das chamadas terras raras, para a produção de chips e de outras tecnologias, enunciam o modo como o equilíbrio da balança do poder começa a estar em causa. Claro está que falamos no mundo digital e como a informação que aí se desenvolve é importante para o sucesso dos estados na competitividade das economias.
Enquanto estas duas potências militares e políticas se vão observando, no Leste europeu desenvolve-se um conflito militar cujo resultado ainda não se consegue antecipar.
A União Europeia vive aqui uma prova decisiva, da qual a última visita a Kiev da presidente da Comissão mostra o empenho de apoiar a Ucrânia e evitar uma qualquer vitória russa.
Estamos, assim, a viver o agravamento do conflito, com a Rússia a tentar evoluir militarmente e a União Europeia, com o apoio dos Estados Unidos, a procurar apoiar a resiliência ucraniana no terreno.
O ano de 2023 poderá não ser um ano de viragem neste conflito e vai trazer, para o primeiro plano da política internacional, estados cujo comportamento será sempre difícil de prever, como a Índia ou a Turquia, a qual apesar de estar na NATO mostra uma ambiguidade preocupante.
A turbulência vai continuar e o papel do poder marítimo será, neste contexto, importante, seja no mar Negro ou no Mediterrâneo ou nos oceanos Atlântico ou Pacifico.
Sabemos que a guerra, como nos dizia Clausewitz (1780-1831), é só a continuação da política por outros meios. Esperemos que ainda seja o tempo da diplomacia.
*Professor universitário de Ciência Política