<p>Com os olhos todos voltados para os problemas da Justiça, talvez não nos tenhamos apercebido de que, apesar de tudo, a governação vai andando. O melhor exemplo vem do Ministério da Educação, em que, quase de pantufas, a ministra esvaziou o problema que tinha em mãos com sabedoria quase salomónica. Por um lado, Isabel Alçada ouviu e falou com os professores e desses encontros estará a sair a construção de uma ponte necessária para o futuro. Por outro lado, ao aceitar a proposta do PSD, que não "mata" a avaliação anterior mas define novos moldes a partir do próximo ano, a ministra ganha a estabilidade política de que o processo necessitava e, embora cedendo, não deixa a anterior ministra no ridículo de tudo ver desfeito nem deita para o lixo o trabalho realizado. No ponto em que as coisas estavam, mesmo considerando que a partir de Janeiro não fica uma única pedra do edifício que Lurdes Rodrigues construiu e Sócrates apoiou até ao fim, há que reconhecer que Isabel Alçada não fez coisa pouca.</p>
Corpo do artigo
É evidente que os próximos passos serão duros. Desde logo, amanhã, no Parlamento, o Governo terá de enfrentar propostas partidárias adversas (só o PSD não quer suspender já a avaliação) e sabe-se como à Oposição interessa marcar pontos nesta matéria. Depois do diálogo que teve com os parceiros, Isabel Alçada vai ter o seu baptismo parlamentar. Falará para os outros partidos, mas o que disser vai ser também ouvido pelos professores em geral (e sabe-se como o peso dos professores afectou o PS nas Legislativas de Setembro) e pelo cidadão comum, que acompanhou esta "guerra" e que sabe que o comportamento do Governo neste caso pode ser a pedra-de-toque para o tal diálogo a que Governo e Oposição estão condenados.
É bom pensar que a nossa vida não está toda tomada por segredos de justiça espalhados na praça pública nem por guerras políticas à conta de casos de justiça. A verdadeira política pode estar de volta. É bom para ajudar a resolver problemas mas também para desanuviar o ambiente de enorme tensão em que temos vivido.
P.S. Mais logo saberemos se o futebol nos leva à África do Sul ou não. Voltamos aos velhos tempos de exibições irregulares e contas até mesmo ao fim. Tudo somado é, pelo menos, um cenário bem português. Está-nos no sangue. Bem mais do que as orações à Senhora do Caravaggio, de que nunca tínhamos ouvido falar, a corrida às lojas chinesas para comprar a bandeira ou as correntes humanas para dar ânimo.