A figura de D. António Barroso (1854-1918) congregou diversas vontades civis e religiosas, que lhe erigiram uma estátua em Cernache do Bonjardim, no concelho da Sertã.
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"O levantamento desta estátua pretende homenagear D. António Barroso, missionário na África, na Índia e bispo na diocese do Porto, bem como os 320 padres missionários, saídos do Real Colégio das Missões, entre 1856 e 1912. Todos os nomes destes sacerdotes católicos estão gravados em bronze na base do monumento", refere um comunicado enviado à comunicação social.
A estátua foi colocada diante do edifício onde esses missionários estudaram e que agora é propriedade da Sociedade Missionária da Boa Nova, fundada por Pio XI em 1930, de que D. António Barroso é considerado precursor. No final do século XIX, ele foi um dos expoentes da reflexão sobre a renovação da missionação e a sua importância para a promoção dos povos. Ele defendia que o trabalho do missionário não é só anunciar o Evangelho, mas também, e sobretudo, contribuir para a melhoria das condições de vida das pessoas que evangeliza. Enquanto missionário no Congo, chegou a promover uma escola agrícola. Escreveu numa das suas obras que o missionário leva "em uma das mãos a cruz e noutra a enxada". O missionário tem de "ser padre e ser artista, pai e mestre, doutor e homem da terra". Na estátua agora inaugurada, é precisamente representado empunhando a cruz, bem alto, na mão direita, e a enxada na esquerda.
Enquanto bispo, D. António soube enfrentar todos os problemas com determinação, firmeza e frontalidade. Fosse no relacionamento com a Santa Sé, fosse com o clero da sua diocese ou em questões que teve de dirimir com outros bispos.
Pugnou pela liberdade religiosa no difícil contexto da I República. Enfrentou Afonso Costa, sempre com elegância e inteligência. Este desterrou-o, mas nunca o conseguiu vergar.
Era reconhecido como amigo dos pobres. No seu testamento, escreveu: "Pobre nasci, rico não vivi e pobre quero morrer, em obediência e acatamento às sábias leis da Santa Igreja. Por isso, e salva a liturgia, quero que o meu funeral seja o mais pobre possível".
Recentemente, D. Carlos Azevedo publicou um livro que reúne a correspondência de D. António Barroso dirigida ao Vaticano. Muita dela inédita. Na introdução à obra e a partir desses documentos, D. Carlos conclui que "D. António Barroso foi um pastor vigilante e bondoso, que não arrasta problemas, antes os enfrenta, não exige o impossível, mas desafia a uma renovação permanente. Toma medidas concretas, cuida das questões reais, com sensibilidade aos problemas da sociedade. A atenção permanente à realidade concreta é uma dimensão surpreendentemente eficaz neste homem de Deus".
São estas as características de um bispo que o Papa Francisco declarou Venerável em 2017. Este foi o primeiro passo do processo de canonização, que culminará com a declaração oficial da sua santidade. As suas qualidades são exatamente aquelas que todo aquele a quem é confiada a missão de pastor tem de desenvolver.
*PADRE