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Fez em janeiro dez anos que por iniciativa do "Movimento de Intervenção e Cidadania do Porto" (MIC), numa reunião que teve lugar no Ateneu Comercial, se constituiu a "Plataforma de Intervenção Cívica" (PiC) que, com unhas e dentes, se propôs defender o tripeiríssimo Mercado do Bolhão da destruição a que estava condenado. E fê-lo com tais unhas e tais dentes que conseguiu mesmo que o velho mercado seja agora uma nova esperança e não uma saudade!
De facto, no passado dia 4, foi dado mais um passo no bom sentido e, ainda que com atraso, o mercado encerrou para obras! Por dois anos, a envolvente do Bolhão, incluindo a área correspondente ao túnel de acesso à cave logística, vai ser sujeita a uma duríssima prova de resistência. Em rigor, este túnel já deveria estar feito, pois tal passagem iria servir de acesso operacional à obra, libertando toda a envolvente do inferno que é sempre um gigantesco estaleiro no meio da cidade. Lamentavelmente, o túnel irá ser a última e não a primeira obra!
E é sobre isto que, hoje, importa refletir antes que as coisas (más) aconteçam. A cidade assiste hoje a uma razoável anarquia no modo como são feitas as obras que agora se multiplicam por aí e o caso da Rua das Flores deve servir de exemplo ao Bolhão, onde também vai acontecer uma excecional concentração de grandes obras por dois ou mais anos.
No entanto, para que o caos não se instale, é crucial que as obras tenham planeamento exigente, direções experimentadas e fiscalizações rigorosas. Caso contrário, teremos mais "obras de Santa Engrácia" que penalizarão toda a cidade por tempo indeterminado e com consequências desastrosas. É que, se à obra do Bolhão acrescentarmos a do referido túnel e a do Quarteirão da Casa Forte/D. João I, teremos as condições ideais para que, sobre aquele lugar, se abata a tempestade perfeita com os usuais efeitos devastadores. Para além do mais, as obras da Porto 2001 e do metro ainda estão na memória de todos e, neste caso, qualquer "plataforma cívica" não pode fazer muito mais do que exigir que todo o programado se cumpra e que, daqui a dois anos, tenhamos o ambicionado mercado público, tradicional e de frescos.
O caso da Rua das Flores deve servir de exemplo ao Bolhão, onde também vai acontecer uma excecional concentração de grandes obras por dois ou mais anos.
ARQUITETO