O ministro da Administração Interna sossegou ontem o país, ao anunciar que o Orçamento de Estado será generoso para a sua tutela. Sem especificar quantos milhões a mais lhe serão entregues, Rui Pereira garantiu, ainda assim, que o acréscimo será superior à inflação.
Corpo do artigo
Porquê este privilégio, que deixará a roerem-se de inveja os milhares de trabalhadores que sonham com aumentos salariais superiores à inflação, de modo a não perderem mais poder de compra? Porque a onda de criminalidade que varre o país a isso obriga. Caso contrário, as forças de segurança esperariam mais uns anitos pelas novas armas e novos equipamentos que agora lhes calharam em sorte.
É que, com a economia como está, a divisão do bolo terá de ser feita com muito juízo. Na verdade, o Orçamento de Estado de 2009 é uma das mais importantes peças da política económica dos últimos anos. Não apenas porque terá de acomodar os desejos de muitos em tempo de eleições várias, mas sobretudo porque exigirá rigor máximo para usar a folga que resulta do controlo das contas públicas onde ele seja realmente necessário. E sem beliscar o caminho da consolidação orçamental.
Trata-se de uma equação de solução difícil. Tanto mais difícil quanto mais facilmente o Governo soçobrar aos clássicos gritos dos sindicatos da Função Pública. Já por aí se ouvem vozes a reclamar aumentos salariais de 5%. Numa situação de crescimento frágil (o primeiro-ministro já concede que o aumento da riqueza do país fique nos 1,2%, enquanto peritos da OCDE que seguem as economias da Zona Euro esperam que a subida se fique pelo 1%), seguir esse caminho seria um perigo para o emprego e para a competitividade. Não foi por caso que, há poucos dias, o prudente presidente do Banco Central Europeu pediu, com inusitada veemência, que os salários não crescessem acima da inflação. Trichet teme - e com razão - que o aumento da massa monetária deite a perder meses e meses de aperto na inflação.
Para os mais cépticos, recomenda--se um olhar breve sobre o que se passa aqui ao lado. A aterragem da economia espanhola está a fazer-se com uma violência há muita esperada pelos economistas mais desconfiados. O crescimento está na taxa mais baixa dos últimos 15 anos, fruto das loucuras cometidas por sucessivos governos. A instabilidade da economia internacional não abre, em Espanha como em Portugal, grandes janelas de esperança, pelo que talvez seja aconselhável manter o rumo da consolidação das contas públicas.
Seria melhor recuperarmos já poder de compra? Não seria melhor, seria óptimo. Se já estivéssemos em condições de o fazer. Não estamos.