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Vivemos mais um momento de vitória do Futebol Clube do Porto, partilhado por várias gerações ao vivo ou de forma indireta através dos média, unindo pontos em todo o Mundo a partir do hub do mágico dragão, onde a nossa equipa comemorou efusivamente com todos os que aí se deslocaram, muitos sem conseguirem entrar, mas esperando pacientemente durante horas para aplaudir os seus novos heróis.
Cada vitória do F. C. Porto é sentida de uma forma particular, porque sabemos bem tudo o que passamos para aqui chegar. Como já uma vez publiquei, ser do Porto é um estado de alma, que cada um perceciona de forma muito pessoal, impossível de explicar, que se herda e se transmite na sucessão natural da lei da vida. É com este espírito e no respeito absoluto por quem não tendo vencido tornou a nossa vitória ainda mais justa, que agradeço a todos os que contribuíram para mais este momento de alegria, partilhado com família e amigos.
O modelo que o clube implementou nos últimos 40 anos é um caso de sucesso que está bem longe de ser fácil. Para um clube português, sediado fora do circuito da capital, estar no top 10 do ranking da UEFA é um feito absolutamente notável, em especial porque esta classificação está alicerçada em vitórias que contrariaram toda a lógica da concentração do poder futebolístico. Obrigou a implementar um modelo que obriga, em cada ano, a vender quase sempre os melhores e mais valiosos ativos para que, fazendo a renovação com outros que se vão descobrindo, voltar a tentar ganhar e, se possível, valorizando as novas descobertas. Se conseguir o sucesso foi muito difícil, saber geri-lo é ainda mais complicado. Não só porque os rivais foram naturalmente aprendendo, algumas vezes com sucesso, mas sobretudo porque a globalização do mercado futebolístico tende a exercer um efeito gravítico sobre os países mais pequenos. A tendência natural que continuará a ser exercida pelos maiores mercados e com maior capacidade de compra obrigará a uma permanente reinvenção do modelo, com a consciência de que tal será cada vez mais difícil.
Hoje é por todos reconhecido ao Futebol Clube do Porto um impacto que, tendo deixado há muito de ser regional, ultrapassa fronteiras e é um orgulho para o país como um todo. Saber organizar o clube em função da responsabilidade deste estatuto será o novo e maior desafio.
PROFESSOR CATEDRÁTICO, VICE-REITOR DA UTAD