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Os 50 maiores devedores da CGD. Os 50 maiores créditos em incumprimento na CGD. Os 50 grupos económicos mais endividados na CGD. Os devedores de montantes acima de 5 milhões de euros na CGD. A acompanhar todas estas listas, a indicação dos montantes, do nível de incumprimento, dos créditos reestruturados, das imparidades, das datas e das garantias concedidas. Bem como a identificação de quem decidiu os créditos e, se for o caso, a sua renovação ou reestruturação. Finalmente, uma lista discriminada de créditos superiores a um milhão de euros concedidos desde 2000, com a indicação dos que estejam em incumprimento.
Esta é a documentação que já deveria ter sido entregue à Comissão de Inquérito Parlamentar à CGD, e portanto aos representantes dos portugueses, de acordo com sentença proferida pelo Tribunal da Relação de Lisboa, que decidiu levantar o sigilo bancário e profissional, em nome da importância da descoberta da verdade e da atribuição de responsabilidade política. Informação crucial, quando se sabe que o Estado se prepara para injetar 2,7 mil milhões de euros dos contribuintes na CGD, valor mais ao menos equivalente ao que se noticia ser o montante de imparidades no banco público (ou seja, dinheiro que este emprestou às pessoas e empresas que estarão nas listas acima, mas que já dá como perdido).
A sentença é de janeiro passado, mas ainda está por cumprir. Os administradores da CGD decidiram não acatá-la. A julgar pelo silêncio generalizado sobre o assunto, nada que preocupe a nossa classe política. Compreende-se. Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, está agora focado na proposta de dar o nome de Mário Soares a um aeroporto para companhias low-cost. E António Costa gastou o seu tempo - milhares de horas, segundo o próprio - para concluir que a pista do Montijo garante um desenvolvimento harmonioso a Lisboa. Os deputados do PS assobiam para o lado à espera que o tempo passe. Os deputados do PCP e do BE hesitam entre a tentação de mostrar as malfeitorias do bloco central de interesses e o receio de arrastar a CGD para a lama e porventura para mãos privadas. Aos deputados do PSD e CDS, as únicas listas que verdadeiramente interessam são de SMS.
É importante apurar se um ministro mente ou não mente. E ainda mais quando é esse ministro quem tutela a CGD e há a suspeita de que mentiu precisamente sobre o banco público. Mas talvez seja ainda mais importante que os deputados usem pelo menos alguma da energia e tempo que sobra a procurar os responsáveis pelo gigantesco buraco que os portugueses vão tapar. Ou não?
* EDITOR EXECUTIVO