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Só há duas formas de abordar a questão dos ciganos. De forma politicamente correta, ou de forma politicamente obtusa. A primeira costumava ser a regra na vida política, a segunda fazia escola ao volante do táxi. Até que um político destemido decidiu trazer os argumentos trocados entre duas bandeiradas para os holofotes da campanha eleitoral autárquica, enobrecendo a sua atividade. A política não pode estar desligada da realidade. E não é o facto de a realidade ser boçal que deve deter o político frontal.
Confesso a minha admiração por líderes como André Ventura, candidato do PSD à Câmara de Loures. Não tem medo de generalizações, nem de estereótipos. Aliás, é o que se começa por fazer nestas linhas, a propósito dos taxistas. Estes, como toda a gente sabe ou ouviu dizer, detestam ciganos (e já agora pretos) e defendem a pena de morte por dá cá aquela palha (outra das lúcidas propostas do supracitado). Entusiasmado com as portas escancaradas por André Ventura, decidi dar-lhe uma mãozinha, usando a estatística, para que a realidade alternativa possa trilhar o seu caminho.
Disse a nova estrela da política portuguesa que os ciganos, ao contrário do português comum, não pagam os transportes públicos, acrescentando que há vários testemunhos dessa vergonha. No fundo, usou a tática de Pedro Passos Coelho, seu padrinho político, quando expôs na praça pública os suicídios em Pedrógão. Ora, segundo as estimativas mais recentes, só na Carris e no Metro de Lisboa fizeram-se, no ano passado, mais de 33 milhões de viagens fraudulentas. Fiz as contas e, se aceitarmos a estimativa de que há 60 mil ciganos em Portugal, cada um viajou pelo menos 560 vezes à borla por Lisboa. E ainda tiveram tempo de fazer uma perninha no Metro do Porto: um milhão de viagens sem Andante, ou seja, 17 por cigano. Como diria Donald Trump, isto é terrífico.
Mas Ventura alertou para um problema ainda mais grave: que os ciganos, ao contrário dos caucasianos, vivem à pala de subsídios, e portanto do dinheiro dos contribuintes. No fundo, enriquecem com o rendimento social de inserção. E o leitor repare bem nisto, mais uma vez com o apoio da estatística: há 214 mil pessoas em Portugal a receber o RSI (a uma média de 113 euros por cabeça) e há, como já se disse, 60 mil ciganos. Isto significa que cada um deles saca três subsídios e meio, crianças ranhosas incluídas. Não se alarme o leitor mais sensível. Estas contas fazem tanto sentido como aquela velha expressão que nos diz para termos um olho no burro e outro no cigano. Ainda que, tendo em conta que isto é uma metáfora, uma dúvida me assalta: se um cigano é fácil de identificar, quem será o burro?
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