O calamitoso regresso do protecionismo
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É a revista “The Economist” que resume melhor aquilo que o presidente dos EUA provocou a nível global: “o dia da ruína”. Inspirado por um protecionismo anacrónico do século XIX, Donald Trump decidiu impor tarifas irracionais que criaram uma verdadeira hecatombe com estilhaços em vários países, EUA incluídos. Mais do que proteger a economia americana, ameaçam mergulhá-la numa crise profunda.
Representando a maior rutura em mais de um século, a nova política comercial americana coloca pesados obstáculos ao livre comércio global: tarifas de 34% nas exportações da China, 27% sobre produtos vindos da Índia e 20% para comércio oriundo da União Europeia. Segundo a revista “The Economist”, tal decisão representa não apenas um golpe económico, mas “um ato de vandalismo irracional”. Perante isto, como controlar os inevitáveis danos?
Em Espanha, o Governo foi rápido a reagir. Na sala mais pomposa do palácio da Moncloa, Pedro Sánchez fez-se rodear de empresários para anunciar um pacote de apoio de 14 mil milhões de euros para os setores mais afetados. Impossível escutar o PM espanhol e olhar para a construção cénica que escolheu para comunicar esta decisão, sem recuar aos tempos sombrios da pandemia. Em vários países europeus, fomos ouvindo, ao longo do dia, intervenções que se juntaram na condenação a Trump.
De facto, o argumento de que tais tarifas servem para colmatar o défice comercial não tem sentido. A história demonstra que o levantamento de tarifas gera prosperidade, e não o contrário. Não será difícil prever que este aumento dos impostos sobre os produtos estrangeiros levará os consumidores americanos a pagar mais pelos seus produtos e a dispor de menos escolhas. Todavia, este será um problema que Trump terá de resolver. Os restantes países precisam de alinhar posições relativamente ao modo como vão reagir a tudo isto.
A tentação de abrir e fortalecer canais com a China é forte, mas são conhecidos os receios quanto à forma como Pequim conduz os seus negócios. Na verdade, as empresas estatais desafiam muitas vezes regras do comércio global, aproveitando-se de exportações para absorver capacidades excedentárias. No entanto, qualquer solução deve passar por uma lógica de integração e não pelo isolacionismo demolidor de Trump.
No que diz respeito à Europa, os governos devem preocupar-se em aumentar entre si fluxos comerciais, criando, com isso, um ecossistema de troca que reduza a dependência dos Estados Unidos. Se ninguém pode evitar os imediatos estragos causados por esta política comercial insana, tal não significa que as opções de Trump triunfarão. O futuro do comércio global será sempre decidido pelos que se recusarem seguir caminhos de ruína.