Não consigo descortinar porque valorizamos tanto o improviso em detrimento do planeamento.
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Coletivamente, assumimos o desenrasca como uma arma secreta que, no fundo, estamos convencidos nos há de safar. E safar é o termo. Porque, também é verdade, que nunca esperamos que nada se resolva de vez. Porque será?
Penso nisto quando acabo de ler na "Times" a explicação para o facto de Israel ter já vacinado mais de 2 milhões de cidadãos, numa média de 250 000 por dia, estando a apontar para ter todos os israelitas acima dos 16 anos vacinados com duas doses até final de fevereiro.
Israel, recordo, tem cerca de 9 milhões de habitantes.
Planearam a coisa da seguinte forma: contrataram muito cedo a aquisição com as farmacêuticas, pagaram mais caro por cada dose e, em troca de uma entrega antecipada, cedem os dados biométricos de todos os inoculados, em regime de anonimato, naturalmente. Uma fortíssima ligação entre o SNS e o exército faz o resto.
O país tem uma altíssima taxa de contágio e de mortalidade, mas isso não impediu os responsáveis de separarem o ataque à doença com o planeamento da vacinação.
Em Portugal, eu pelo menos tenho a impressão de que estamos todos em regime de urgência extrema a tentar minorar a crise do dia a dia, não parecendo haver separação de recursos nem disponibilidade para se tratarem vários dossiers ao mesmo tempo. Num plano mais geral, parece que todos os assuntos da governação desapareceram.
A concentração da comunicação política em muito poucos atores também não ajuda.
Mas a verdade é que nem um simples voto por correspondência pudemos agilizar. E um ano dá para muita coisa. Até para uma revisão constitucional cirúrgica. No fim, vamos todos espantar-nos com a taxa de abstenção e reclamar sobre o que podia ter sido feito.
Bolas!!!
Analista financeira