A tragédia do país mede-se, provavelmente antes de tudo o mais, por aqui: num ano apenas, e de acordo com os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), o número de desempregados em Portugal aumentou 6,7% em Novembro, para 583 240, face ao mesmo mês do ano passado.
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Feitas as contas, isto significa que, a cada mês que passa, há mais de 3 mil pessoas que perdem o emprego (100 por dia, portanto). É uma brutalidade. Uma brutalidade a que vamos ter de nos habituar, na exacta medida em que só um tresloucado pode achar que as coisas tendem a melhorar antes de piorarem bastante.
Os homens e os mais jovens são os mais afectados. Cerca de 40 por cento dos que compõem a malograda estatística estão sem trabalhar há mais de um ano - isto é: a hipótese de regressarem ao mercado é cada vez mais escassa, desde logo porque, ainda segundo o IEFP, as ofertas de trabalho caíram 45% face ao mês de Novembro do ano passado. Imaginemo-nos numa situação destas, para tentar perceber o drama desta gente...
O problema é que, por mais que o desejemos, não se vê modo de sair daqui. O próximo ano não será apenas o ano de toda a austeridade; será também o ano em que ficarão pelo caminho muitas micro, pequenas e médias empresas incapazes de resistir ao impacto da crise. São elas as principais empregadoras do país. São elas que, exangues, carregarão as estatísticas do desemprego.
Sim, é possível amortecer os efeitos sociais devastadores provocados pelo disparo continuado da falta de emprego. Serão apenas almofadas, pequenas almofadas, porque, a montante delas, existe uma realidade cujo peso, tremendo, torna impossível qualquer solução que não seja acompanhada por um sustentado crescimento económico. Um exemplo apenas: um em cada dez portugueses tem mais de 50% do seu rendimento totalmente comprometido com os encargos dos empréstimos contraídos para comprar o necessário e o desnecessário. Ora, se a este aperto juntarmos muitos outros (cortes nos salários, subida de impostos, aumento do preço dos bens e serviços essenciais, menos apoios sociais, etc....), percebemos com relativa facilidade como é estreito o caminho das famílias portuguesas.
É por isso que, clarificado como está o calvário a percorrer para pôr as contas públicas em ordem, esta é a hora certa para começarmos a falar da estratégia de crescimento económico do país, debate a que o Governo e o seu primeiro-ministro se têm furtado, ou, na melhor das hipóteses, têm tentado florear com declarações de encher o olho - aquelas cuja substância e pensamento se aproximam do zero. A menos que as medidas de urgência e a sangria financeira não estejam verdadeiramente controladas, interessava-nos saber como e quando espera o Governo pôr o país a (tentar) crescer. Podemos começar o debate pelo que tem impedido a economia de crescer. Há pano para mangas.