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A primeira semana de campanha eleitoral para as eleições europeias de 7 de Junho foi morna, morninha. Foi de tal forma morna, morninha que, numa rápida retrospectiva, apenas uma imagem me salta à memória: os três espirros seguidos libertados por Paulo Rangel, o candidato social-democrata, numa iniciativa partidária. Quando nada de politicamente substantivo se discute, é natural que a coisa resvale para o lado do mero e perigoso circo mediático...
Sobre a importância das europeias num ano em que haverá mais dois actos eleitorais já se disse tudo. Por isso seria de esperar que os candidatos - e as respectivas estruturas partidárias - se aplicassem a fundo nesta primeira contenda. O que é aplicar-se a fundo? É explicar aos leitores em que diferem, afinal, as visões de uns e de outros sobre o futuro da União Europeia e do espaço e do papel que Portugal deve desempenhar no seio dos 27.
Pois bem, à primeira oportunidade de debate sério sobre uma questão muito séria, seguiu-se o pior caminho: o da confusão.
Verdade que Vital Moreira foi ligeiramente trapalhão - e sobretudo inconsequente - quando recuperou a ideia de um imposto europeu. Se achou que a matéria merecia discussão, devia tê-la explicado devidamente, apontando os prós e os contras sobre aquilo que, em bom rigor, é uma inevitabilidade a prazo. Salvo para os que ainda acreditam que há almoços grátis. Claro que os opositores de Vital aproveitaram a forma pouco clara como ele expôs o tema para o desancar politicamente. E assim se esboroou, num instantinho, a possibilidade de debatermos de onde vêm, para onde vão e, sobretudo, para onde deveriam ir os dinheiros que enchem os cofres da União Europeia.
Reparem agora neste tão emblemático pormenor. Um dia depois de ter estalado a confusão por causa do imposto europeu, já o PS se enredava com deleite numa outra discussão estéril . Vital Moreira aludiu num comício à "roubalheira" que "figuras gradas" do PSD fizeram no Banco Português de Negócios. A presidente da comissão de inquérito que investiga o caso no Parlamento, confrontada pelos jornalistas, disse não se rever na classificação escolhida por Vital - "Não uso determinados termos em política", comentou Maria de Belém. Apanhou logo com a verve dura de José Lello. "Não me choca o termo 'roubalheira'. O que me choca é a displicência da deputada Maria de Belém, tentando minorar o impacto das palavras proferidas pelo nosso cabeça de lista nas eleições europeias".
A avaliar por (mais) este prestimoso serviço prestado ao país pelos socialistas, espera-se uma segunda semana de campanha interessante. Muito interessante. Para eles.