<p>1. Manuel Alegre anda incomodado com Sócrates. O deputado que, diz o próprio, vale um milhão de votos admitiu mesmo, numa recente entrevista ao DN e à TSF, não voltar a integrar as listas do PS em próximas eleições. Conseguirá o país sobreviver à sua ausência?</p>
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Alegre justifica assim o (precoce) abandono da vida partidária: "Não posso envolver-me numa campanha se não estiver de acordo com o programa político nem com as políticas. Nem posso apoiar pessoas que nada têm a ver comigo, quer do ponto de vista político quer de outros pontos de vista". Tradução: se houvesse eleições, o deputado não votaria em José Sócrates, tamanha é a dose do seu descontentamento.
Há provas disso: o deputado diz, em sua defesa, que tem feito mais oposição ao PS do que o próprio PSD. Na situação debilitada em que se encontra o PSD, o auto-elogio é fraquito, mas sintomático. Porque significa que Alegre está disposto a fugir a sete pés das políticas do Governo de Sócrates (veja-se o caso da Educação), sempre que isso lhe dê jeito. E há-de dar muitas vezes, desde logo porque o deputado acha que os dois maiores partidos portugueses não existem politicamente, uma declaração trágica que deve ocupar horas do nosso pensamento, porque anuncia o ocaso do sistema democrático português.
O que pretende, afinal, Manuel Alegre com este distanciamento do PS, uma "máquina de poder" que "deixou de ter vida própria"? Alegre quer o que a Esquerda à esquerda do PS quer: cavalgar a crise social e económica, colocar-se ao lado dos fracos e oprimidos, execrar os proventos dos abastados, defender professores e alunos da tirania burocrática, pelo menos enquanto estes andarem a manifestar-se na rua... É, como se vê, todo um programa político...
Para o (ainda) deputado socialista, a congregação dos descontentes tem um fito: Alegre quer chegar às próximas presidenciais com o seu espaço muito marcado, de modo a impor-se ao PS como o candidato agregador de toda a Esquerda. Para isso precisa de se ir distanciando das políticas governamentais que beliscam os interesses daquela área. É o que está a fazer. Com mais ou menos "sound-byte", com mais ou menos alusões aos perigos que a democracia corre e os incautos não vislumbram, o caminho está traçado.
2. Os "No Name Boys", claque de futebol afecta ao Benfica, são acusados de traficar droga para sustentar a sua actividade. O Benfica diz que, por muito respeito que lhe mereçam as claques, não apoia nenhuma. Recomeça a tristeza: toda a gente conhece os meandros deste delicado mundo das claques, mas ninguém está interessado em incomodar-se. Isso tem um custo: chama-se impunidade.