Recentemente tenho acompanhado os debates entre candidatos à Presidência da República, que mais se assemelham a um jantar de curso da praxe na Confeitaria Império: todos têm muito a dizer, todos querem mostrar que estão certos, e, portanto, falam o mais alto possível para mostrar a validade das suas opiniões.
Poderia versar sobre a etiqueta dos debates, mas parece-me muito mais interessante focar no fenómeno que é a maioria dos candidatos parecer não saber para que papel estão a ser entrevistados. Não os podemos culpar! Quem nunca leu uma vaga anunciada no LinkedIn e depois percebeu, aquando da exerção das suas funções, que o anúncio não tinha nada a ver com a realidade? Claro que essas vagas não estão consagradas na Constituição da República, e também vamos ignorar que existem outros 20 presidentes da República que os precederam, e com os quais muitos dos candidatos já privaram.
Felizmente, não fui a única a reparar nisto. No seu debate com André Ventura, António José Seguro explicou o papel do presidente da República. E que necessária foi essa intervenção, já que parece que há quem esteja confuso, não só candidatos, como eleitores.
É curioso como muitos dos candidatos debatem como se fossem integrar o poder executivo ou legislativo. É papel do presidente da República ser figura de Estado, Chefe das Forças Armadas, e como tal, é espectado que tenha uma visão para o país, que possa direcionar as discussões de modo a servir Portugal de um modo exímio. Mas não será ele o manda-chuva, a quem todos têm a obrigação de obedecer, e que pode unilateralmente decidir o rumo do país.
Traduzindo isto para termos mais formais: o presidente da República não tem um impacto direto sobre a economia do país ou em qualquer das suas ramificações. O seu impacto é indireto, enquanto moderador político. A sua visão estratégica pode influenciar reformas, a estabilidade e a confiança nas instituições. Em termos práticos, o seu papel é fundamental para a execução do PRR, para captar investimento estrangeiro e fundos europeus. O seu lema deve ser "pontes e estabilidade".
Enquanto eleitora, apelo aos meus compatriotas: tenhamos isto presente aquando da tomada da nossa escolha no dia 18 de janeiro. A nossa voz reflete o futuro que desejamos para Portugal, por isso temos de entender o que é expectado do nosso presidente.
Não vamos ser aquela pessoa que contrata um contabilista para resolver problemas informáticos.

