Corpo do artigo
Antes de abordar o tema que hoje me propus tratar, devo exarar aqui, de novo, a minha declaração de interesses - sou sócio do Futebol Clube do Porto e membro dos órgãos sociais do clube. Tal circunstância não impedirá, contudo, que eu possa pronunciar-me de forma isenta e objetiva sobre o papel cada vez mais relevante que o Porto Canal tem vindo a desempenhar na valorização da cidade e da região.
Quando foi público o interesse do FCP neste canal televisivo, que estava a passar por sérias dificuldades para se afirmar num meio altamente competitivo, logo houve quem pensasse que o Porto Canal viria a ser mais um canal de desporto, igual a tantos outros que vemos quando percorremos a enorme oferta de canais afetos a clubes desportivos que a televisão nos proporciona. No fundo, seria mais um canal para ser visto exclusivamente pelos adeptos mais ferrenhos fora dos dias em que houvesse transmissão desportiva. E isso, disse-se, seria redutor para uma região que tinha cada vez menos força em matéria de órgãos de Comunicação Social que pudessem falar ao país a partir do Porto e do Norte.
Mas, felizmente, não foi assim. Os receios dos que temiam ver enfraquecida mais uma voz, independente e autónoma, na defesa dos interesses gerais da cidade e da região, rapidamente se desvaneceram. O Futebol Clube do Porto e os profissionais competentes que trabalham no Porto Canal souberam não cair na tentação do trabalho fácil e redutor que significaria transformá-lo em mais um canal desportivo monocolor. Bem pelo contrário. A entrada do FCP na programação regular da estação televisiva deu origem a uma séria reformulação dos seus conteúdos enquanto canal generalista com uma vertente desportiva centrada no Futebol Clube do Porto, quanto baste.
Há muito que pensava fazer uma referência pública de apreço por todos quantos contribuíram para o sucesso deste projeto. Mas o que agora me levou a não protelar esta referência foi o aparecimento na semana passada de um novo programa que tem como principal protagonista Luís Filipe Menezes. Interpelado por Juca Magalhães, Menezes aborda os principais acontecimentos no país, com especial incidência na atualidade política e económica e uma vez por mês tem um convidado de sua escolha que participa no programa para debater assuntos de grande relevância nacional.
Confesso que pensei que este seria mais um daqueles shows de análise e debate político que enxameiam os canais televisivos todos os dias da semana. Mas não. Assistimos a um momento televisivo de grande qualidade, em todos os seus aspetos.
Desde logo o espaço criado para o programa. Sóbrio, elegante, bem desenhado, moderno, constitui a meu ver o cenário mais bem conseguido de todos quantos podemos ver em programas semelhantes. Depois, a postura e as questões tratadas por Luís Filipe Menezes. Não deixando de abordar a sua muito expressiva derrota nas eleições autárquicas, soube assumir os seus erros e ter palavras de apreço e incentivo para Rui Moreira, o candidato que o derrotou. A referência ao seu sucessor em V. N. de Gaia é justíssima. Eduardo Vítor tem relevado a obra do seu antecessor, sem nunca procurar atirar para cima do Executivo anterior as culpas do que ainda não conseguiu realizar, comportamento que, reconheça-se, é cada vez mais raro.
Por outro lado, Menezes conseguiu trazer ao debate o ministro Poiares Maduro, figura central da polémica que opõe o Governo aos autarcas e instituições nortenhas a propósito da repartição dos fundos comunitários, confronto que nessa semana tinha atingido o seu ponto mais crítico. E foi incisivo e incómodo para o ministro, levando-o a esclarecer algumas questões que até então continuavam duvidosas. Juca Magalhães soube intervir quando era necessário, sem dar a ideia sempre desagradável para quem assiste de que as perguntas e respostas estavam meticulosamente combinadas entre ambos. E, finalmente, a duração do programa tem o tempo certo.
Esta semana, o registo foi semelhante, anunciando-se desde já a participação de Miguel Cadilhe no próximo programa. Outra boa escolha. A manter-se esta qualidade em programas futuros, o Porto Canal pode orgulhar-se de estar a competir, neste domínio, com as mais poderosas estações televisivas, apesar da brutal diferença de meios que os separa.
Com a agonia da RTP a partir do Monte da Virgem, o Porto Canal é cada vez mais quem presta no Norte o serviço público de televisão. Repete-se, uma vez mais, a história no Norte - são os privados quem resolve, sempre, aquilo de que o Estado se demite.