A ministra das Finanças chegou ao briefing do Conselho de Ministros nitidamente cansada: tinha chegado tarde do estrangeiro e das 8.30 h da manhã de ontem até às 14.30 h esteve com os seus colegas de Governo a fechar o Documento de Execução Orçamental, o famoso DEO. Em certo sentido, Maria Luís Albuquerque era, naquele momento em que a televisão lhe captou as olheiras que a base não conseguiu cobrir, o espelho dos portugueses: cansada, cabisbaixa e sem nada de verdadeiramente relevante para dizer que não soasse a mais do mesmo. Apesar dos sorrisos que os números da macroeconomia têm colado em vários governantes, a ministra mantém-se serena, porque sabe, como nós sabemos, que não há (ainda) motivos para esticar os lábios de orelha a orelha.
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O decorrer da conferência de Imprensa provou como são corretas a postura e atitude da ministra das Finanças. Os mais crédulos acreditaram, por antecipação, que Maria Luís Albuquerque levaria escrito nos papéis um misto de amor e de terror. Ela anunciaria (ou diria qualquer coisinha, pelo menos) que o salário mínimo subiria; que a carga fiscal seria aliviada; que, agora sim, o Governo atacaria ferozmente as PPP e respetivos beneficiários; que, enfim, com os juros da dívida a recuar, sairemos honrosamente do espartilho troikiano. Esta seria a parte do amor. Seguir-se-ia a do terror: o cálculo das pensões será indexado ao andamento da economia e da demografia; as tabelas salariais da Função Pública serão alteradas; as sobretaxas mantêm-se.
Nem amor, nem terror. Findo o Conselho de Ministros, a ministra veio dizer-nos que, apesar de se esperar um crescimento da riqueza que produzimos (PIB) em 1,5% e um decréscimo do desemprego para 14,8%, tudo se mantém na mesma. Vale o mesmo dizer: o "ajustamento interno" é para continuar. Agora com cortes na despesa dos ministérios e redução de funcionários públicos que, por junto, valerão 1400 milhões de euros. Isto e mais uns "peanuts", como a eventual criação de uma taxa a aplicar à indústria farmacêutica e o encarecimento de produtos nocivos para a saúde.
A primeira pergunta que assalta qualquer incauto é: por que motivo só agora o Governo vai "sacar" 1400 milhões aos ministérios? Não era preferível ter feito essa poupança antes de atacar salários e pensões?
A segunda pergunta é: em que medida o corte nos orçamentos dos ministérios prejudicará, ainda mais, os serviços prestados aos portugueses (na saúde, por exemplo)?
A terceira pergunta é: quando é que o Governo nos diz quanto mais teremos que empobrecer (recorde-se: as medidas transitórias passaram a definitivas) até atingirmos excedentes (exportando mais e importando menos) suficientes para pagarmos a dívida? A tragédia social em que isto se sustenta tem prazo para terminar?
A ministra estava muito cansada para nos esclarecer...