Precisamos de investimento. Parece ser uma verdade indesmentível.
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Para isso, era muito importante que o solo industrial estivesse devidamente infraestruturado, que os parques empresariais disponibilizassem serviços comuns que permitissem partilhar recursos e otimizar os custos, que as políticas de incentivo à formação ao longo da vida ou à formação tecnológica fossem intermediadas por quem conhece as comunidades industriais, que a política fiscal fosse estável e, já agora, viável, e que, de uma forma geral, "o Estado não atrapalhasse".
Parece uma ladainha ou um "wishfull thinking" mas, na verdade, terá de ser assim se quisermos garantir uma dinâmica permanente de regeneração, sobretudo, industrial.
Ajudaria se algum do investimento de que precisamos fosse investimento estrangeiro. De preferência centros de inovação ou de investigação e desenvolvimento que pudessem aproveitar a nossa rede de universidades, de centros de investigação ou de instituições de interface. Promovendo condições de trabalho estáveis e uma dupla via de investigação aplicada e fundamental, assumida pelo país com a naturalidade de quem vê na aquisição e aplicação de conhecimento a própria condição de sobrevivência das atuais comunidades.
Para isso, era importante que organismos tão relevantes como a AICEP pudessem simplificar a mensagem e perseverantemente solidificar uma e uma só imagem de marca do país: qualidade.
E com o devido respeito por todos os nomeados, proponho que se encontre outra forma de o dizer que não passe pelo futebol ou pelo fado. Com todo o respeito, repito!
A Justiça e a Administração Pública não podem ficar de fora. Alguns exemplos, do lado da Administração funcionaram, como a "empresa na hora", mas é preciso continuar com persistência e resistindo a todas as tentações politiqueiras que insistem em dar um passo atrás para prometer dois à frente só porque a ideia original não foi do partido do poder. Não há mais paciência, e já agora também não há mais dinheiro, para custear inovações de secretaria.
Se insistirmos em discursos redondos e regulamentação prolixa, se continuarmos sistematicamente a preterir o bom (que às vezes até já temos) pelo ótimo a que ninguém chega nunca, então merecemos o país que temos, o país do Piruças e da Lassie??? Sim, do Piruças e da Lassie! Dois cães indelevelmente marcados pela nossa Administração, espécie de novelo kafkiano, sem saída e, no caso, completamente ridículo.
O Piruças e a Lassie são dois cães de uma raça considerada perigosa. Por denúncia foram colocados à guarda de determinada câmara municipal. Verificada a sua perigosidade foi determinado o seu abate.
No entanto, a determinação não agradou à comunidade local de defensores de animais e, por via de ação judicial, foi solicitada a suspensão do abate.
Sem solução para os animais, agora à guarda do tribunal, o presidente do município solicitou à associação de municípios vizinha a guarda temporária do Piruças e da Lassie no respetivo canil intermunicipal.
Por solidariedade assim se fez. Daí para cá uma má notícia e uma boa notícia. Pelo lado dos animais, claro. A má notícia é a de que a cadelinha Lassie morreu e está há dois anos literalmente pendurada no frigorífico do canil intermunicipal cumprindo todas as regras necessárias. Dada a circunstância jurídica, não pode ser cremada.
A boa notícia, pelo lado dos animais, claro, é a de que o Piruças está bom e recomenda-se a comer boa ração e gozando dos melhores cuidados veterinários, porque a ação judicial não anda. Por junto e atacado calcula-se num bom par de milhares de euros o custo, até agora, deste processo. Os donos, devidamente notificados pelo tribunal, dizem que não pagam já que lhes tiraram os cães.
Como no "Processo" de Kafka nunca se encontrará o fio à meada e nunca ninguém saberá explicar o que aconteceu. Consta que os autarcas anfitriões se irritam um bocado com esta história.
Eu, simplesmente, não quis acreditar até ver as notificações escritas.
O país, esse, está assente como veem, num bom par de pés de barro.